Baixo volume e presença quase exclusiva do investidor pessoa física explicam movimentos de mercado Em meio ao rali deste ano, o bitcoin (BTC) retomou um de seus velhos hábitos: voltou a registrar grandes movimentos nos finais de semana, um fenômeno que se tornou uma característica intrigante do mercado de criptomoedas.
Veja o último domingo de janeiro, quando saltou 3,4%, valor semelhante ao que alcançou no sábado do fim de semana anterior. E no sábado anterior, a moeda avançou 5,5%.
Que o bitcoin registra grandes movimentos não é novidade. Mas o token, como todas as outras criptomoedas, é negociado 24 horas por dia, todos os dias da semana, ao contrário da maioria dos outros ativos, que tendem a ser negociados de segunda a sexta-feira em bolsas reguladas. E isso já foi visto nos mercados de criptomoedas no passado, com o bitcoin disparando - ou registrando grandes dias de baixa - enquanto outros ativos estão descansando do trabalho.
A teoria mais convincente sobre os fortes movimentos de fim de semana pode ser que a liquidez é menor, o que significa que as oscilações de preço em grandes pedidos podem ser mais pronunciadas, diz Noelle Acheson, autora do boletim informativo “Crypto Is Macro Now”. A liquidez tem sido mais fraca para o bitcoin recentemente, com traders e investidores ficando à margem e os chamados hodlers empacando, diz ela.
“Desde o início do ano, a volatilidade aumentou – ainda não em níveis "normais", mas chegando lá”, disse Acheson.
“Isso deve anunciar o retorno do fenômeno do fim de semana, com a menor liquidez do fim de semana levando a movimentos mais fortes, à medida que traders e investidores voltam provisoriamente ao mercado.”
Os tokens de criptoativos dispararam no início do ano, à medida que outros ativos mais arriscados, como ações, também subiram e os investidores olham para o futuro até o final de 2023, quando esperam que o Federal Reserve reduza o aperto da política monetária. O bitcoin subiu cerca de 40%, reduzindo as perdas de sua alta histórica em novembro de 2021 para cerca de 60%. O ether (ETH), o segundo maior em valor de mercado, subiu uma quantia semelhante.
Mas, dados os problemas que afetaram o mercado de ativos digitais durante todo o ano passado - incluindo a quebra de vários projetos anteriormente grandiosos, como a plataforma de negociação FTX - os investidores se esquivaram em meio à turbulência.
Os volumes de negociação permanecem na sarjeta: as centenas de bolsas em todo o mundo - chegando a 650, de acordo com a CoinGecko - recentemente registraram volumes de negociação de 24 horas de cerca de US$ 100 bilhões, em comparação com mais de US$ 200 bilhões em novembro de 2021. Volumes menores podem, portanto, exacerbar quaisquer movimentos de preços de fim de semana.
Ainda assim, ninguém sabe ao certo por que os preços das criptomoedas disparam nos fins de semana. Um fenômeno semelhante – às vezes chamado de efeito noturno – também pode ser encontrado com ações.
“As empresas divulgam muitas informações depois que os mercados fecham porque querem que as pessoas tenham tempo para digeri-las – e quando você chega na manhã seguinte, você tem a chance de dizer, OK, qual é o impacto dessa notícia”, disse Kara Murphy, diretora de investimentos da Kestra Investment Management.
“E parte disso pode ser verdade no espaço cripto, onde as pessoas talvez estejam esperando para divulgar informações na sexta-feira à noite, para que você tenha o fim de semana para digeri-las. Essa seria a explicação fundamental para o porquê disso estar acontecendo.”
Chris Gaffney, presidente de mercados mundiais do TIAA Bank, que supervisiona uma mesa de moedas, atribui ainda outro motivo potencial: menos dependência da compra institucional de cripto em comparação com os mercados tradicionais.
“É mais sobre pesssoas físicas”, disse ele em entrevista. “Por esse motivo, você pode ver oscilações mais amplas nos fins de semana apenas porque são apenas pessoas físicas negociando.”
--Com assistência de Lu Wang.
Fonte: Valor Invest