Sondagem do Santander durante evento no México confirma percepções dos estrangeiros com ativos locais; para eles, há perspectivas positivas para o Brasil em termos relativos, frente a outros mercados Por que o investidor brasileiro está tão pessimista? Essa foi a pergunta que a estrategista de ações para Brasil e América Latina do Santander, Aline Cardoso, mais ouviu de agentes globais numa conferência do banco em Cancún, no México, nos dias 17 e 18 deste mês. Uma sondagem realizada pela instituição financeira durante o evento, com mais de 200 participantes do mercado, confirmou que os estrangeiros permanecem otimistas com os ativos locais.
Cerca de 90% dos participantes eram estrangeiros. Para esse grupo, há perspectivas positivas para o Brasil em termos relativos, quando se compara o país com outros mercados.
Primeiro, a expectativa é que a reabertura da economia da China, com o término da política covid zero, e o fim do ciclo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, banco central americano) impulsionem os mercados como um todo. Em termos locais, o investidor de fora espera que o Banco Central consiga cortar juros já neste ano e, como os “valuations” (avaliação de mercado) das ações brasileiras estão entre os mais descontados do mundo, há entendimento de que existe um espaço considerável para a recuperação.
Cardoso afirma que os estrangeiros também têm uma leitura mais positiva que os institucionais locais sobre o novo governo, dando a ele o “benefício da dúvida” — o que corrobora os dados de fluxo da B3. No levantamento, 35% dos respondentes disseram esperar que o governo seja neutro para o mercado e, para 34%, o Executivo será levemente amigável (com adoção de algumas medidas alinhadas aos interesses dos investidores). Uma parcela de 22% afirmou não esperar essa sintonia.
O otimismo em relação ao desempenho brasileiro só não é maior que o atribuído aos pares mexicanos. Na visão de 64%, o peso mexicano será a moeda da região que mais se valorizará em 2023, enquanto 21% apontaram o real e 7%, o peso chileno. Já no mercado acionário, 59% colocaram o mercado mexicano como favorito, 28% citaram o brasileiro e 7% apostam no argentino.
“Os ativos mexicanos têm sido muito beneficiados pela tese de "nearshoring" [encurtamento das cadeias de produção]. Por conta de questões geopolíticas, empresas têm retirado parte de suas estruturas da China e outros países do Oriente, voltando a estabelecê-las no Ocidente. Assim, o México tem aparecido como maior beneficiário, já que tem uma proximidade dos Estados Unidos e da Europa e os impostos são menores”, diz Cardoso.
“Mas tenho falado com clientes que dizem que, na medida em que uma reforma tributária avançar no Brasil, o país também pode ganhar relevância na discussão.”
Por enquanto, os gatilhos macroeconômicos globais continuam dominando as discussões. Do total de respondentes, 62% disseram que o comportamento dos juros nos Estados Unidos e as respostas monetárias de Brasil e México serão os principais impulsionadores para os mercados da região.
Outros 20% apontaram os riscos de recessão como fator primordial em suas decisões de investimento, e 7% colocaram a reabertura da China no topo da lista. O efeito positivo que a economia chinesa pode provocar nas contas globais foi apontado, adicionalmente, como o evento mais esperado pelos investidores em 2023.
E é no mercado de ações que os participantes esperam ver os maiores ganhos (52% das respostas), com o referencial MSCI LatAm avançando entre 5% e 15% no ano, segundo 71% dos executivos. Enquanto para 17%, o retorno será superior a 15%. Entre as outras classes de ativos, os títulos corporativos foram a escolha de 25%, os títulos públicos foram citados por 13% e o mercado de câmbio recebeu 6% das menções. Em termos de setores, os preferidos são commodities metálicas, energia e bancos.
“O otimismo consensual é em torno das empresas ligadas às commodities e principalmente ao petróleo, impulsionados pela volta da mobilidade na China, mas a assimetria destes ativos já não é tão boa como a dos papéis ligados à economia local. A expectativa secundária é que, caso as matérias-primas realmente avancem, o governo consiga arrecadar mais e as incertezas locais arrefeçam, permitindo que a parte mais descontada da bolsa volte a andar”, diz.
Fonte: Valor Invest