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Indústria brasileira de celulose e papel é modelo na adoção de práticas ESG

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Com foco na inovação e respeito à cultura da sustentabilidade, indústria passa por transformações e tem expectativa de atingir cerca de US$ 370 bilhões em todo o mundo até 2029 A indústria brasileira de celulose e papel é uma das maiores do mundo, com 220 empresas distribuídas entre 540 municípios de 18 estados do País, segundo a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP). De acordo com dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil é o segundo maior produtor de celulose, respondendo por mais de 11% do volume mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, e o maior exportador do material. Além disso, figura entre as 10 maiores potências globais em produção de papel.

Diante de tamanha representatividade, a sustentabilidade se apresenta como pauta necessária a partir de uma demanda cada vez maior por soluções alinhadas com a temática ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), valorizando as boas práticas relacionadas ao meio ambiente, aos aspectos sociais, à transparência e à gestão.

Diretor da unidade de negócios da Falconi Consultores, que fornece soluções para a indústria de bens duráveis, Alexandre Ribas afirma que os desafios na pauta de sustentabilidade estão concentrados em três dimensões: comunicação, inovação e eficiência no uso de recursos.

“O setor, no Brasil, tem um papel fundamental na agenda ESG como protagonista nessa e nas próximas décadas. Na dimensão da comunicação, tem a missão de transmitir todas as inovações, como o trabalho feito com biofibras, por exemplo, e desmistificar o ramo em relação ao clima, por ser um segmento Carbono Negativo, ou seja, que gera crédito de carbono para os demais. É uma indústria que busca a evolução constante de processos e o desenvolvimento de produtos substitutos de materiais não sustentáveis, que aproveitem o contexto do segmento”, detalha.

Já quanto à utilização dos recursos, Ribas pontua que a indústria é marcada pela produtividade, recuperação, reaproveitamento de resíduos e redução do uso de água. O executivo reforça que produzir de forma sustentável e com alta performance é o principal desafio da área de celulose e papel. No Brasil, segundo o especialista, a maioria da produção de celulose se dá por meio de madeiras plantadas em vez de origens extrativistas, prática ainda existente em outros mercados.

“É responsabilidade das companhias buscar excelência em mitigação dos impactos, já que o verdadeiro potencial ambiental da indústria de base florestal é a capacidade de absorver carbono, compensar emissões e gerar créditos para o mercado”, argumenta Ribas, enfatizando o fato de o setor de celulose e papel estar inserido no conceito de economia circular, já que muitos subprodutos são geralmente utilizados no processo, até mesmo como insumo.

Alexandre Ribas, diretor da Falconi Consultores

Divulgação

O especialista ressalta ainda que as unidades industriais estão investindo significativamente para a redução do impacto ambiental das operações, tanto na diminuição das emissões como na de ruídos. Não à toa, o diretor da Falconi destaca unidades industriais altamente eficientes e automatizadas, com interferências mínimas no ambiente no qual estão inseridas.

Práticas sustentáveis

Com atuação industrial desde 2009 em Guaíba, no Rio Grande do Sul, a CMPC Brasil tem forte compromisso com a gestão ambiental dentro da cadeia produtiva. Ela se dá em uma área total de 467 mil hectares, com conservação de 41% de áreas nativas. O diretor-geral da CMPC no Brasil, Mauricio Harger, reforça que o tema ESG tem sido central para os negócios e uma exigência da sociedade. Harger diz que a tendência no planejamento estratégico do segmento é “levar a tríade ambiental, social e governança para o centro das discussões”.

“Existe uma demanda crescente da sociedade por produtos mais sustentáveis, e a celulose desempenha bem essa função diante de outros materiais, como, por exemplo, o plástico, além de oferecer muitas possibilidades de crescimento. Hoje, empresas colocam ESG como principal foco”, diz o executivo, frisando também a importância de as empresas serem transparentes.

No Sul, a CMPC Brasil mantém o projeto “BioCMPC”, o segundo maior investimento privado da história do estado e o maior em termos de sustentabilidade, que une eficiência operacional e medidas de controle e gestão ambiental. Do total de resíduos sólidos gerados pela produção de celulose, 100% são reciclados e reaproveitados no Hub CMPC de Economia Circular, que utiliza materiais descartados para transformá-los em novos produtos. Por ano, as 600 mil toneladas de resíduos geradas são transformadas em 13 produtos diferentes para serem comercializados.

Além disso, a unidade industrial adota práticas sustentáveis em outras ações. Cerca de 85% da energia necessária para a produção da celulose é gerada pela própria planta industrial, a partir da biomassa. Já a água usada dentro desse processo é captada do Lago Guaíba e, depois de sua utilização, é devolvida para o lago com melhores índices de pureza.

Vale lembrar que o grupo assumiu globalmente, em 2019, o compromisso de até 2025 diminuir em 25% o uso de água nos processos industriais e ser uma companhia com zero resíduo em aterros sanitários. Também tem como objetivo que até 2030 haja a redução de 50% das emissões de gases causadores de efeito estufa e que ocorra o acréscimo de novos 100 mil hectares de área de conservação.

Com os indicadores ambientais na pauta diária dos diretores e gerentes, as empresas estão investindo pesado na evolução de seus processos industriais. O executivo da Falconi aponta que a medição e o acompanhamento do impacto social do setor se destacaram nos últimos anos, já que indústria e florestas estão localizadas, muitas vezes, perto de comunidades. “As empresas têm forte impacto no entorno, com a criação de empregos, compra de insumos locais e o próprio investimento em melhorias”, ressalta Ribas.

Investimentos de R$ 53,5 bilhões até 2024

Nos últimos anos, houve uma grande transição de embalagens plásticas para as de papel, o que incrementou o setor por meio da necessidade desses materiais, principalmente porque agora, além da demanda do e-commerce e do delivery, há a de lojas físicas também. Em junho de 2021, a expedição de caixas e papelão ondulado teve um volume de 16,7% maior do que no mesmo período em 2020, batendo pela 12ª vez consecutiva o recorde de volume expedido no ano, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel).

Porém, apesar do alto crescimento da busca por embalagens, parte dessa demanda não foi atendida. Com a pandemia, unidades industriais desaceleraram as operações, outras fecharam e várias enfrentaram a dificuldade da falta de matéria-prima. Além disso, a demanda mundial e a valorização do dólar direcionaram boa parte da produção nacional para o mercado externo. Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), as exportações aumentaram 4,3% em 2021, fato que reforça ainda mais o posto de maior exportador de celulose ocupado pelo Brasil.

“Se conectarmos o ritmo de crescimento de demanda com o volume de oferta, percebemos um descompasso que precisa ser solucionado não apenas com aumento de produtividade e ampliações de companhias. O Brasil tem potencial gigante de produtividade”, acredita Ribas, complementando que é crucial a análise de projeções futuras, uma vez que o período pós-pandemia trouxe vários desafios, tanto em questões de logística como em fechamentos constantes na China, que é o principal mercado do setor.

“A expectativa é que exista uma pressão sobre os preços, o que torna ainda mais importante o investimento constante em gestão para otimização dos custos e despesas, além de garantir que as produções orçadas sejam cumpridas”, comenta o consultor.

Já o diretor-geral da CMPC no Brasil diz que a ruptura de cadeias produtivas se reflete na dificuldade das empresas em aumentar a capacidade de produção, muito por conta do fato de materiais e equipamentos levarem mais tempo para serem produzidos e entregues. Hoje, a empresa brasileira passa por um projeto de modernização operacional que vai culminar em 18% a mais de capacidade de produção. Com isso, diz o executivo, a CMPC espera atender a expectativa de crescimento de demanda.

“A demanda é enorme. Tanto que os estudos mostram que a cada 18 meses, em média, o mundo vai precisar de uma nova unidade industrial de celulose”, destaca Harger. Até 2024, a previsão da IBÁ é que o setor deva investir R$ 53,5 bilhões. No mesmo sentido, as obras de expansão podem gerar mais receita e dinamicidade ao setor nacional, além de criarem cerca de 35 mil vagas temporárias e outras 14 mil fixas numa cadeia que já soma 1,4 milhão de empregos.

Tecnologia x Futuro do setor

O mercado de celulose e papel deve crescer ainda mais e atingir um valor de quase US$ 373 bilhões até 2029, segundo levantamento do portal Statista. Nesse cenário, outros elos também precisam ser observados, para que se otimize os avanços e se reduza as perdas. Entre eles, inclusão de transformação digital e digitalização dentro da área florestal; otimização de custos no transporte da madeira, por exemplo, com rotas mais dinâmicas; e a manutenção preventiva a partir do uso de inteligência artificial e machine learning para prever e evitar problemas.

“Com o objetivo de utilizar de maneira cada vez mais racional os recursos disponíveis, a CMPC mantém em constante aprimoramento os seus processos produtivos. Por meio de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o setor florestal da companhia busca alternativas mais sustentáveis e inovações que passam, por exemplo, pelo aprimoramento da matriz energética e logística e pelo melhoramento genético das espécies de eucaliptos plantadas”, conclui Mauricio Harger.

Fonte: Valor Invest

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