O ano de 2022 teve grandes marcos na economia brasileira. O Ibovespa encerrou em alta de 5,59%, na comparação dos últimos doze meses, e o real se valorizou cerca de 5,11% frente ao dólar. Além disso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador oficial da inflação no Brasil, começou o ano alta e seguiu acelerando repetidamente e batendo marcas históricas. A taxa básica de juros da economia, a Selic, chegou ao maior percentual desde janeiro de 2017. O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou consecutivos resultados positivos ao longo dos trimestres, benefícios sociais foram ampliados para favorecer a população endividada no Brasil e a gasolina, que começou o ano com o preço próximo a R$ 8, irá terminar por volta de R$ 5. Mas com a transição de governo, o que a população pode esperar para 2023? De acordo com especialistas ouvidos pela Jovem Pan, o Brasil tem perspectivas positivas para o próximo ano, apesar da necessidade de cautela. O economista Carlos Caixeta aponta que, em 2022, a maioria das ações ficou barata. Por conta disso, ao olhar o índice preço-lucro, na média as empresas brasileiras apresentam um índice correspondente a oito vezes.
“Esse é um dos menores índices dos últimos cinco anos. Para 2023, quem pensa no médio e longo prazo, é um estímulo para a retomada acontecer. O que pode jogar contra são as altas taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa. Esse movimento atrai dinheiro para lá e leva à retirada do dinheiro de bolsas de valores no resto do mundo. É o que pode prejudicar um pouco a recuperação da B3, mas a expectativa é que ela fique entre 130 e 140 mil pontos. Ações de bancos e empresas do setor de saúde, mineração, alimentos, bebidas e energia devem se destacar. Se o dinheiro começar a ir para os Estados Unidos, o dólar se valoriza. Então, a previsão do dólar é que ele fique entre R$ 5,45 e R$ 5,50, podendo chegar a R$ 5,80, caso o cenário internacional fique mais preocupante. Existe uma expectativa de recessão nos Estados Unidos e Europa para o próximo ano, com a alta da inflação. Para o mercado externo, 2023 vai ser um ano difícil, com perspectiva de melhora em 2024”, pondera. Em um cenário de juros altos, investimentos mais conservadores serão aqueles com melhor rendimento, pondera o co-head de investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira. “O apetite a risco do investidor vai diminuir. Já temos visto isso com alocação em títulos de grandes bancos como Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e títulos pós-fixado. Nós acreditamos que isso vai perdurar ao longo de 2023. Com o discurso e atitudes do novo governo no últimos mês, não existe espaço para corte de juros ao longo do ano. Tendo esse juros mais alto, a classe de pós-fixados deve se sobressair”, analisa.
O economista e assessor de investimentos da Unicred, Marcos Laplechade, por outro lado, traz perspectivas mais moderadas e acredita que não existem grandes oportunidades na bolsa brasileira para 2023. Ele avalia que o Brasil é um player mediano dentro do mercado, sem ganhos ou perdas excessivos. “Tem quem acredite que a bolsa está barata. Sim, ela está, mas pode continuar por muito tempo. Os juros tendem a permanecer elevado. Mas o Brasil é um grande produtor de commodities, o que está em alta no mercado, e temos uma matriz energética bastante limpa, em um momento em que o mundo está buscando uma aproximação dos processos produtivos que levam em conta o cuidado com o meio ambiente. Temos esse lado que se beneficia do cenário econômico mundial. O câmbio por si só deve ficar na faixa entre R$ 5,15 e R$5,30, a não ser que haja uma ruptura do ponto de vista institucional. Quando a gente pensa nesse patamar de juros que temos agora, o Brasil acaba atraindo capital externo. A expectativa para Brasil é moderada, com um mercado mais comportado e sem muita volatilidade, diferente do que tivemos em 2022”, determina.
Na contramão, o economista Igor Lucena acredita que o Ibovespa deve manter a alta volatilidade observada no último ano. Ele observa que, caso o governo não consiga estabelecer um arcabouço fiscal para segurar os gastos públicas, a taxa de juros deve subir e desestimular investidores de aplicar dinheiro na bolsa. “Mas teremos setores que provavelmente vão ser estimulados pelas ações do governo, como construção civil e educação privada. Contudo, quando falamos de varejo, bancos e outras empresas relacionadas a consumo e renda disponível da população, isso deve cair. A visão do plano de governo do presidente Lula de gastos públicos para incentivar a economia pode até dar certo em um primeiro momento em 2023, mas ela tem um limite que esbarra na confiança da capacidade do governo de pagar suas dívidas e do crescimento econômico do Brasil. Sempre fomos puxamos pelo boom de exportações de commodities. Com o fraco desempenho das economias da China, Estados Unidos e Europa, a tendência é que nossas exportações caiam. Se tivermos um alto grau de endividamento e baixo nível de exportação, o mercado de ações tende a desabar. Caso o contrário aconteça, com a Guerra da Ucrânia e Rússia acabando por exemplo, podemos ter um grande estímulo e voltar a superar os 130 mil pontos. O Brasil fica refém do cenário internacional e de como o governo vai manejar os gastos públicos. Não vejo uma tendência muito linear”, avalia.
Perspectivas para a economia nacional
O governo eleito que assume em 2023 traz uma tendência desenvolvimentista da economia, com mais tolerância para a inflação e presença do Estado, como aponta o economista Carlos Caixeta. Com isso, o cenário do próximo ano deve incentivar o estímulo aos gastos das famílias com impactos positivos no varejo, construção civil, bens básicos e eletroeletrônicos. Além disso, a equipe econômica deve trabalhar com um maior compromisso com as metas de inflação, que são a base da estabilidade, apesar de indicar um menor controle das contas públicas, de acordo com os especialistas. “Podemos esperar uma maior proteção aos direitos dos trabalhadores, com ajustes na Consolidação das Leis do Trabalho e uma redução ou paralisação das privatizações das empresas públicas. O governo tem uma preocupação em resgatar a imagem do Brasil como defensor do meio ambiente e projetos de sustentabilidade. Por isso, deve dedicar mais investimentos a esse tipo de atividade e implementar iniciativas que tragam maior proteção aos direitos das minorias e de povos indígena”, pondera. Ele ainda observa que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma boa herança do governo Bolsonaro com reformas Trabalhistas e da Previdência, desempenho dos serviços e setor industrial, superávit primário, impactos positivos da liberação de saques extraordinários do FGTS, antecipação do 13º a aposentados e pensionistas, Auxílio Brasil “turbinado” e redução das alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo, ações que geraram uma injeção de mais de R$ 50 bilhões na economia.
O economista Paulo Gala complementa que, caso a equipe econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresente uma nova âncora fiscal eficaz para o teto de gastos, assumindo um compromisso com a estabilidade fiscal, o cenário econômico no Brasil em 2023 será mais favorável, com câmbio ao redor de R$ 5, inflação mais baixa e juros menores. Ele ressalta que a PEC de R$ 150 bilhões não preocupa, porque está mesma proporção dos gastos extras feitos pelo atual governo em 2022, e afirmou considerar a regra do teto de gastos muito rígida, lembrando que não tem sido cumprida nos últimos anos. Ele pontuou que é necessário substituir a regra do teto por um mecanismo que seja eficaz e bem acolhido pelo mercado. “O quadro obviamente seria mais interessante para a economia como um todo, favorecendo o setor produtivo, o emprego e a renda no país. Se o governo não estabelecer uma regra fiscal eficiente e crível do ponto de vista do mercado financeiro, o cenário seria desafiador, com câmbio atingindo R$ 6, inflação em alta e juros em ascensão”, pondera. O economista elogiou a postura “fiscalista” de Fernando Haddad, futuro ministro da economia, e de seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo, ressaltando que esse último é um grande entusiasta das parcerias público-privadas para destravar investimentos. “A taxa de câmbio terá impacto fundamental sobre a inflação e, consequentemente, sobre os juros. O Brasil possui US$ 320 bilhões de dólares em reservas cambiais, o que aliviaria um pouco a pressão sobre o câmbio, caso o cenário mais difícil se concretize. Estamos resistindo bem ao choque de juros americano, o que é surpreendente, porque o contexto americano tem como consequência uma escassez maior de investimentos externos no Brasil”, avalia. Ele ainda pondera que o surto inflacionário global de 2021 e 2022 está no fim.
Em relação à taxa Selic, a expectativa para o próximo ano é que ela comece a diminuir, segundo o investidor e especialista em mercado financeiro André Dias. Ele relembra que a taxa encontra-se a 13,75% e que é um instrumento que o Banco Central utiliza para fazer o controle da inflação. “Hoje, estamos muito próximos do recorde dos últimos dez anos, que foi no período Dilma, quando chegamos a 14,25%. Pode ser sim que ela suba um pouco para 14%, mas o mercado acredita que nós já chegamos no teto para o ano que vem. A tendência é que essa taxa de juros comece a cair. Com isso, produtos de renda fixa que são atrelados à taxa de juros começam a perder a atratividade a partir do ano que vem”, indica. André ainda ressalta que com a entrada de uma nova equipe econômica em 2023, é difícil prever as movimentações que devem acontecer. “O mercado financeiro neste momento está assustado, principalmente os estrangeiros. Eles estão em cima do muro, esperando para ver o que vai acontecer e qual vai ser a direção da política econômica. Muitos dizem que o governo eleito está forçando a bolsa de valores para baixo com notícias para que quando o governo atual entregue o mandato ela esteja bem em baixa. A estratégia é de que, com as medidas que podem ser feitas em 2023, ela volte a subir e eles colham os frutos do sucesso. Mas tudo é achismo nesse momento. Em termos de investimento, agora é a hora de ser defensivo porque a gente não sabe o que vai acontecer mais na frente. Temos várias oportunidades na mesa, mas é preciso escolher com cautela e apostar na diversificação do patrimônio”, recomenda.
Fonte: Jovem Pan