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Foco da COP27, cadeia de alimentos tem muita relação com circularidade, diz Fundação Ellen MacArthur

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A organização estará no evento como credenciada pela primeira vez. A responsável pela entidade no Brasil falou com o Prática ESG com exclusividade

Referência mundial em economia circular, a britânica Fundação Ellen MacArthur é conhecida por seus relatórios sobre resíduos e por se associar com indústrias poluidoras para reverter, desde o início da cadeia, o lançamento no planeta de embalagens e materiais pouco biodegradáveis. Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022, a COP27, começando, a entidade vê um ótimo momento para jogar luz a mais uma frente de articulação mundial necessária: a circularidade e sustentabilidade da cadeia de alimentos.

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“Até 2019 a COP era muito centrada em transição energética e nas últimas conferências, outros temas relevantes, como a economia circular virou uma vertical. Fizemos uma modelagem em 2019 que mostrou que a transição emergetica é importante, mas é só 65% do problema; 45% está na forma com produzimos e alimentos na nossa economia linear”, comenta Luisa Santiago, líder do trabalho da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.

Para ela, a discussão deste ano no Egito, centrada na temática de alimentos, também se conecta com a economia circular. Isso tem a ver com as embalagens dos produtos, mas também com a comida em si.

“Precisamos pensar no design de produtos, em como projetamos alimentos que atendam aos princípios de economia circular”, pontua. “Queremos trabalhar com empresas, grandes marcas que usam agrotóxicos, que produzem alimentos pouco nutritivos e ultraprocessados, mas que têm uma larga escala e alcance, para promover mudanças”, diz Santiago. “Queremos propor inovação e soluções que valorizem o local e alimente o mundo de forma a regenerá-lo, ao mesmo tempo em que produz o suficiente para satisfazer a demanda de alimentos”, acrescenta.

Em 2021, a entidade publicou o relatório o grande redesenho de alimentos, em que cita diversas práticas e benefícios da produção regenerativa de comida e do design circular de alimentos. O design de produtos é um tema central das soluções que a fundação propõe para o setor privado. “O design de produtos é como você seleciona ingredientes, que todos sejam produzidos de maneira regenerativa, em agroflorestas e aquaculturas, de maneira a sequestrar carbono, aumentar da biodiversidade do solo, deixar os solos mais estáveis e capazes de reter água. Passa pela aplicação de métodos regenerativos”, explica.

O termo upcycling, usado para se referir ao aproveitamento de resíduos para fabricação de outros produtos, ajuda a definir o que a fundação acreditar ser o futuro da circularidade de alimentos. Não apenas os resíduos irem para compostagens, mas eles serem melhor aproveitados. Para isso, o mundo precisará explorar – no bom sentido – a biodiversidade. Estudos apontam que das cerca de 300 mil espécies de plantas comestíveis que existem no mundo, os seres humanos consomem menos de 1%. As monoculturas da soja, trigo e até de cadeias consideradas mais sustentáveis, como a do açaí na Amazônia, segundo a líder da entidade no Brasil, são prejudiciais para a biodiversidade do planeta e, portanto, deveriam ser evitadas.

“Existem centenas de espécies de batatas, mas consumimos só a batata inglesa. Desenvolvemos uma simplificação alimentar”, diz Santiago. Ela cita ainda que as monoculturas e outras técnicas agrícolas mais invasivas, também prejudicam a biodiversidade do solo, mais “escondida”, como a dos vermos que são importantes para a produção de alimentos.

E isso, reforça, não quer dizer que as empresas deveriam deixar de ganhar dinheiro. Cita como exemplo uma empresa que está vendendo chips de uma variedade grande de espécies de batatas com snacks e faturando alto com isso. “Faz sentido econômico e climático.” Essa e outras histórias devem ser contadas em uma série de vídeos a ser lançado até o fim do ano.

Pela primeira vez, vai como fundação credenciada e não convidada. “Grande foco estará em reforçar a mensagem que a economia circular é o mecanismo de entrega para fazer frente a crise climática e atender o Acordo de Paris”, comenta Santiago.

No mundo, a Fundação Ellen MacArthur trabalha com produção técnica de materiais que mostrem o problema e possíveis soluções no âmbito público e privado para a transição de uma economia linear, que extrai recursos naturais sem preocupação com seu reúso, para uma economia circular, que reaproveita o que já está em circulação, evitando usar mais recursos da natureza ou usá-los sem impacto.

O mais recente material, divulgado no início de novembro, mostra a evolução dos signatários do Compromisso Global para uma Nova Economia dos Plásticos, desenvolvido por ela junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Em quatro anos, a parcela de conteúdo reciclado pós-consumo aumentou de 4,8% em 2018 para 10,0% em 2021. Embora tenha levado décadas para as empresas atingirem a marca de 5%, os signatários do Compromisso Global duplicaram para 10% em apenas três anos.

Um dos principais desafios, na opinião de Santiago, é mostrar a todos que é possível conciliar crescimento econômico com preservação e regeneração. Os exemplos vão além do que se fala do mercado de crédito de carbono. “É pensar nos biomas e preservação, como balanceia o ganho e a escala com a biodiversidade. A biodiversidade precisa ser número 1 e andar junto com as estratégias para o clima”, aponta.

Financiamento

Parte importante da discussão, seja com setor público ou privado, está no financiamento a iniciativas de combate à crise climática. Desde o ano passado, o tema entrou forte nas discussões da conferência do clima. A expectativa da fundação é que volte a protagonista este ano, englobando também os recursos necessários para uma economia mais circular e isso não é só em torno do plástico.

“É importante olhar para nossa missão nessa COP dentro da lógica do financiamento. Para as metas de net zero dos acionistas, empresas, instituições financeiras serem atingidas vão precisar da economia circular”, diz Santiago. Ela critica a visão de fundos de investimentos e empresas que olham apenas a cadeia do plástico ou da reciclagem dentro do universo da circularidade.

Matheus Cenali/Pixabay

Fonte: Valor Invest

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