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Pesquisa eleitoral

Pesquisas eleitorais: especialistas analisam divergências e dono de instituto aponta "compra de votos" entre fatores que alteram resultados

Pesquisa eleitoral / Foto: Reprodução / Internet
Pesquisa eleitoral / Foto: Reprodução / Internet

Um dos assuntos mais polêmicos no "pós-eleição", projetos de lei que regulam a atuação de institutos de pesquisa eleitoral no país podem ser colocados em regime de urgência nessa semana, na Câmara dos Deputados. As propostas surgiram em decorrência das divergências – muitas delas, bem acima da margem de erro - entre os levantamentos realizados por alguns institutos e os resultados das urnas.

Ouvido pelo CadaMinuto, o cientista político Ranulfo Paranhos explicou que pesquisa de opinião é o retrato do momento em que ela é coletada. Reflete a opinião dos eleitores enquanto intenção e não como voto efetivamente, considerando o dia em que a informação é coletada.

No entanto, o especialista ressalta que "as formas como fazemos pesquisas no Brasil estão desatualizadas, porque sempre que as fazemos montamos uma amostra olhando para o último Censo brasileiro que é de 2010, ou seja, temos uma defasagem de 12 anos". Isso quer dizer que os números referentes às proporções entre sexo, idade, grau de instrução e outras informações refletem a realidade da sociedade daquela época, portanto não estamos montando amostras olhando para a população brasileira de 2022.

Como as pesquisas apresentam dados coletados e só temos acesso a elas um ou dois dias depois, é difícil achar que as informações coletadas até a quinta-feira da semana da eleição vão refletir a realidade do domingo da votação. "As pesquisas ao serem coletadas indicam tendências com margem de erro, o resultado das urnas no caso de Lula e Bolsonaro, as pesquisas davam Lula com 48% dos votos válidos e cravou. Bolsonaro em uma delas deu quase 40%, e chegou a 43%. Essa subida se deve à acomodação dos eleitores. Não quer dizer necessariamente que a pesquisa tem que dar esse dado antecipadamente", afirmou o cientista.


Sem amparo científico

Por fim, Ranulfo explicou que o Projeto de Lei não tem nenhum amparo científico para penalizar empresas de pesquisa que estão errando ou bonificar as que estão acertando. "Quem regula a compra de pesquisa de opinião é o próprio mercado, ou seja, se elas estão errando não é papel delas tentar influenciar. Aquelas que mais erram, naturalmente desaparecem do mercado".

"No entanto, tentar legislar no sentido de coibir ou imputar penalidades, está saindo dos perdedores, ou seja, do governo que perdeu no primeiro turno e agora está saindo atrás no segundo. São parlamentares da base e é natural que os perdedores tentem fazer alguma coisa, mas na democracia não dá para tentar legislar sobre tudo aquilo que nos convém", defendeu Paranhos.

O cientista avaliou que se todos aqueles que erram nas pesquisas forem penalizados "vamos ter que começar a penalizar os economistas do governo que não conseguem fazer superávit primário, PIB positivo, pois as projeções do governo estão sempre nesse sentido. Vamos penalizar todos os economistas? E os meteorologistas que erram? Qual a diferença entre essas duas categorias de serviços que fazem previsão com dados? Qual a diferença dos estatísticos e cientistas políticos que fazem pesquisa? Na minha cabeça não tem nenhuma. Todo mundo é ciência e todo mundo está trabalhando dentro da margem de erro", concluiu Paranhos.

Migração de eleitores

O professor Eduardo Magalhães, também foi ouvido pela reportagem e afirmou que "as pesquisas políticas brasileiras podem ser tão confiáveis quanto as pesquisas feitas em qualquer outro país. Por terem como matéria-prima as opiniões humanas, sempre variáveis, é impossível obter 100% de probabilidade de não haver erro numa pesquisa política. Mas, um erro de 2% para mais ou para menos, a margem de erro usada pelos melhores institutos, garante um resultado altamente confiável".


Quanto à divergência de dados apresentados em algumas pesquisas, Magalhães explicou que os resultados diferentes da sexta para o domingo, demonstram apenas que nesta eleição, violentamente polarizada, alguns eleitores esperaram até a última hora, às vezes até ficar diante da urna eletrônica, para decidir em quem votar.

O especialista afirmou que não houve erros nas pesquisas. O que aconteceu foi a migração rápida de eleitores, nas últimas horas da campanha, para o presidente Bolsonaro e que já tinha sido detectada. "Não houve tempo para divulgação dessa pequena onda bolsonarista. O sistema eleitoral brasileiro de parabéns", defendeu.

Compra de votos

Também ouvido pela reportagem, Francisco Nunes, diretor do Instituto Falpe, que está há cerca de 30 anos no mercado, avaliou que hoje é muito mais difícil acertar resultados de pesquisas, principalmente pela dificuldade em alcançar a metodologia e pelo fato de que muitas pessoas estão mais cautelosas para responder as perguntas ou simplesmente "não acreditam mais em pesquisas".

Para ele, não é possível saber exatamente o que aconteceu com os levantamentos cujos resultados das urnas divergiram bastante dos votos apurados, mas é necessário entender que "não adianta manipular os números, porque isso já ocorreu no passado e aquele instituto fica marcado, ou pela falta de competência ou pela suspeita de má fé".


"Se for comprovado erro na metodologia de forma proposital, tendo provas disso, a Justiça deve tomar as providências necessárias. Mas outra coisa importante, paralelamente a qualquer tentativa de regulação, é coibir a compra de votos, porque isso causa distorções nos levantamentos. O pesquisador entrevista uma pessoa de manhã e de tarde alguém passa comprando o voto dela como se tivesse comprando comida na feira", ponderou, sobre as propostas de regulação da atividade.

Francisco Nunes reforçou que "para que um instituto seja punido é preciso haver provas concretas de fraude e não punir pelo simples erro, porque o erro é natural".

"Achei até que, em geral, os institutos chegaram muito perto dos resultados das urnas, principalmente pelo fato alertado várias vezes por mim de que não estávamos conseguindo alcançar a metodologia. Parei de fazer pesquisa qualitativa e passei a fazer quantitativa por conta dessa dificuldade. Por exemplo, é diferente chegar em um interior e ouvir 20 pessoas. Já fazendo local, dá para ouvir 700, 800 pessoas e garantir um acerto maior", prosseguiu.


Fonte: Cadaminuto

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