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'Super quarta' traz Fed e BC em momentos distintos do ciclo de política monetária

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Enquanto os investidores ainda discutem a possibilidade de aceleração no ritmo de altas de juros por parte do banco central americano, o debate no Brasil é em torno da necessidade ou não de um ajuste residual na taxa Selic A "super quarta-feira", como convencionou-se chamar o dia em que coincidem as decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, ilustra dois bancos centrais em momentos completamente distintos do ponto de vista de seus ciclos de política monetária. Enquanto os investidores ainda discutem a possibilidade de aceleração no ritmo de altas de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o debate no Brasil é em torno da necessidade ou não de um ajuste residual na taxa Selic, em reunião que pode marcar o encerramento do ciclo de aperto monetário no país.

Leia também: Powell se inspira em Volcker para domar inflação nos EUA

Emprego e atividade serão destaque no Copom

Nos EUA, de acordo com os futuros dos Fed Funds, aproximadamente um em cada cinco participantes do mercado apostam em uma alta de 1 ponto percentual na reunião de quarta-feira, contra quatro que esperam uma elevação de juros de 0,75 ponto percentual. Atualmente, os juros americanos estão entre 2,25% e 2,50% ao ano. Já no Brasil, o cenário é o oposto: segundo pesquisa realizada pelo Valor com 109 instituições, 75% dos participantes do mercado projetam que as taxas de juros se mantenham inalteradas em 13,75%, ante 25% que esperam um ajuste de 0,25 ponto na Selic.

Confira abaixo os principais pontos de atenção nas decisões de política monetária dos EUA e do Brasil:

Estados Unidos

Fed pode manter ritmo de 0,75 ponto percentual

Depois da divulgação do último índice de inflação ao consumidor americano (CPI), referente ao mês de agosto, os contratos futuros dos Fed funds passaram a precificar maior chance de elevação de 0,75 ponto percentual pelo Fed no encontro desta quarta-feira. Os investidores receberam com surpresa a aceleração do núcleo do indicador de preços (que desconta os setores de energia e alimentos, mais voláteis) na semana passada, o que deu margem para apostas em um BC americano mais “hawkish” (agressivo). Às vésperas da decisão, dados do CME Group apontavam a probabilidade de 82% para uma alta de 0,75 ponto percentual e de 18% para um aumento de 1 ponto.

Nas palavras do banco Wells Fargo, porém, “uma alta de 1 ponto colocaria um sopro de pânico no ar”. Já na avaliação do banco holandês ING, a inflação alta divulgada na semana passada significa que uma alta de 1 ponto é um risco, mas não estimam tal cenário porque “as expectativas de inflação e os planos das empresas para os preços parecem menos ameaçadores, além das perspectivas de crescimento mais incertas”.

Estimativa para aumento de juros

No encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) desta quarta-feira, o investidor deve ficar de olho não só na decisão sobre as taxas de juros, mas também nas estimativas dos próprios integrantes do comitê sobre a economia americana, que devem ser apresentadas no Summary of Economic Projections (SEP).

Neste documento, o gráfico de pontos (“dot plot”) deve indicar como os membros do Fed enxergam o aperto monetário daqui para frente. Como apontou em nota Daniel Krieter, estrategista do BMO Capital Markets, a maioria dos participantes do mercado está focada no gráfico de pontos e no que ele revela para as expectativas do Fed para a taxa terminal de juros.

Para Michael Feroli, economista-chefe do J.P. Morgan, a taxa final deve chegar a 4,25%. Feroli disse esperar que o movimento de altas de juros perca ritmo em novembro, caindo para alta de 0,5 ponto. “Continuamos a buscar um aumento de 0,25 ponto em dezembro, e agora vemos isso seguido por outro movimento de 0,25 ponto na reunião de janeiro-fevereiro.”

Levando em consideração que o próximo aumento das taxas de juros se consolide em alta de 0,75 ponto percentual nesta quarta-feira, para o encontro de novembro as chances de que o ritmo se mantenha no atual patamar é de 58,4%, segundo contratos futuros do Fed funds.

Crescimento econômico

Além da perspectiva sobre o aperto monetário, o investidor deve ficar de olho sobre como o BC americano está projetando a inflação (por meio do PCE, sigla para índice de preços de gastos com consumo), o crescimento econômico e a taxa de desemprego do país.

Brasil

Zero ou 0,25%

Após um ciclo rápido e bastante intenso de aperto monetário - foram 11,75 pontos percentuais de altas de juros desde o início de 2021 - o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central trouxe fortes indícios, no comunicado da última decisão de política monetária, de que o movimento de elevação da taxa Selic no país estaria perto do fim.

Na ocasião, o Banco Central informou que o Comitê avaliaria "a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião". A frase foi interpretada por participantes do mercado como um sinal inequívoco do fim do ciclo de aperto monetário, o que, junto com alguma melhora na inflação corrente, desencadeou um aumento das apostas de cortes de juros na curva.

Com o mercado esperando o início do ciclo de afrouxamento monetário cada vez mais cedo, autoridades do Banco Central reagiram nas últimas semanas e buscaram dissuadir a ideia de que os cortes de juros se aproximavam. Em falas recentes, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto e o diretor de política monetária da instituição, Bruno Serra, utilizaram um tom mais conservador, comportamento que, na visão de investidores, voltou a colocar uma alta de 0,25 ponto percentual "na mesa" para a decisão desta quarta-feira.

Enquanto a pesquisa realizada pelo Valor com 109 economistas apontou que 1 a cada 4 instituições esperam uma alta de 0,25 pp, a precificação de mercado mostra uma probabilidade maior. Segundo o mercado de opções de Copom, a probabilidade de uma alta na quarta-feira é de aproximadamente 34%.

Comunicação

Na iminência de encerrar o ciclo de altas de juros, mas ainda diante de uma composição da abertura da inflação corrente e de uma recente deterioração nas projeções para 2024, agentes financeiros acreditam que o Banco Central possui um grande desafio em termos de comunicação na decisão de quarta-feira.

Caso opte por manter as taxas inalteradas em 13,75%, os observadores da autoridade monetária devem avaliar como será transmitida a mensagem de que as taxas de juros ainda devem permanecer em território restritivo por um longo período de tempo.

"Em nossa visão, as autoridades devem sinalizar que a conjuntura econômica ainda prescreve manutenção da política monetária significativamente contracionista e postura vigilante, e que anteveem estabilidade da taxa Selic para a próxima reunião. Apesar da redução da inflação de itens voláteis, ressaltamos que as medidas de inflação subjacente seguem elevadas e que o ritmo de desinflação adiante será lento, o que reforça a necessidade de uma política monetária contracionista ainda por algum tempo", afirma a equipe de pesquisa macroeconômica do Itaú, que não espera novo ajuste na Selic na quarta-feira.

De acordo com o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, mesmo com o fim do ciclo de aperto monetário, a autoridade vai mostrar comprometimento com o regime de metas de inflação, buscando sustentar o juro em nível elevado por tempo prolongado para promover uma convergência da inflação às metas. "Seria uma interrupção do ciclo de alta com uma comunicação dura, para que seja crível o compromisso de que o juro vai ficar estável por um tempo suficientemente prolongado", diz.

Projeções de inflação

As recentes medidas feitas pelo governo de desoneração de itens como combustíveis e energia elétrica promoveram um forte ajuste nas projeções de inflação dos agentes de mercado nas últimas semanas, o que também deve ficar refletido nas estimativas do Banco Central.

Na visão da XP Investimentos, os dados desde o último Copom foram de neutros para positivos para a perspectiva de inflação. "A queda da inflação corrente e maior estabilidade das expectativas mostram um cenário mais benigno à frente. Em contrapartida, a demanda interna ainda forte e o mercado de trabalho com recuperação sólida podem atenuar a desinflação", dizem.

As simulações dos economistas da XP replicando o modelo do Copom indicam recuo da projeção do IPCA de 2022, de 6,8% para 6,0%; em 2023, de 4,6% para 4,3%; e estabilidade em 2024 em 2,7%.

Vale ressaltar que, nas últimas três semanas, as projeções dos analistas de mercado para o IPCA em 2024 vêm subindo, segundo o Relatório Focus, do Banco Central, e alcançaram os 3,50%, nível acima do centro da meta do período, de 3%. O movimento tem provocado desconforto em autoridades do BC, segundo afirmou o diretor de política monetária da instituição, Bruno Serra, recentemente.

Atividade

Em meio às surpresas positivas com a atividade do Brasil, temas como mercado de trabalho e capacidade ociosa da economia devem ganhar destaque nas discussões entre os membros do colegiado. Números mais recentes indicam aceleração da atividade mais forte que o esperado e o Banco Central terá que analisar os possíveis efeitos inflacionários disso.

“Temos esse debate hoje sobre o que os economistas chamam de "Nairu", que é a taxa de desemprego neutra em relação a gerar inflação de salário, se a gente passou desse ponto ou se a gente está depois do ponto é uma variável difícil de se observar”, afirmou o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, no evento “Valor 1000”.

"É esperado que o BCB traga à luz o debate sobre o hiato do produto, fundamental para a formação de premissas de inflação prospectiva e, portanto, para o nível adequado das taxas de juros para o controle das expectativas dentro das metas de inflação. Este fator tende a ganhar mais destaque, uma vez que as incertezas políticas e, portanto, fiscais, devem permanecer nos mesmos níveis nas próximas reuniões do Copom", afirma a equipe de macroestratégia do BTG Pactual.

Cenário Internacional

Desde o último Copom, surpresas negativas com índices de preços em países desenvolvidos fizeram os principais bancos centrais do mundo reforçar seus discursos duros contra a inflação. O cenário provocou uma forte reprecificação das taxas terminais de juros nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, e deve ser traduzido, aos olhos do colegiado, como um ambiente externo adverso e volátil.

"O cenário internacional continua desafiador para os mercados emergentes, devido à persistência da inflação nos mercados desenvolvidos, provocando um aperto mais rápido nesses mercados, em especial pelo Fed, e um dólar forte frente às moedas dos mercados desenvolvidos e alguns mercados emergentes. O câmbio BRL/USD permaneceu em R$ 5,28 entre as reuniões, mas os juros mais altos nos países desenvolvidos exerceram pressão sob a moeda local", descreve o Credit Suisse.

Do lado positivo, ponderam os economistas do banco, as perspectivas de crescimento econômico global diminuíram e os preços das commodities em reais caíram 2,7% desde 3 de agosto.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano)

Alex Brandon/AP

Fonte: Valor Invest

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