Dólar
Euro
Dólar
Euro
Dólar
Euro

valor

Análise: Bolsonaro pode não ganhar, mas já levou

Imagem de destaque da notícia
Em quatro anos de 7 de setembro, Bolsonaro se afirma como líder conservador, escreve Bruno Carazza Brasília, 07/09/2019. No primeiro desfile de seu mandato, Jair Bolsonaro não discursou. Ao lado de Silvio Santos e de Edir Macedo, assistiu às manobras militares. Ao final, quebrou o protocolo e foi cumprimentar o público presente com seu ministro mais popular, Sergio Moro.

Leia mais:

Veja como foram os atos do 7 de setembro

No Rio, Bolsonaro fala em 'extirpar' a esquerda e destaca pauta conservadora

Em Brasília, presidente alfineta STF e compara primeiras-damas

Brasília, 07/09/2020. Por causa da pandemia, não houve desfile, mas o presidente realizou um pronunciamento em rede nacional. Na sua fala, nenhuma referência aos 126.960 mortos até então. Louvando o passado, referiu-se aos “milhões de brasileiros” que teriam ido às ruas nos anos 1960 para “combater o comunismo” e a “corrupção generalizada”, em nome da liberdade. “O sangue dos brasileiros sempre foi derramado por liberdade. Vencemos ontem, estamos vencendo ontem e venceremos sempre”.

Brasília e São Paulo, 07/09/2021. A temperatura eleva. Em cima de um carro de som na capital federal, Bolsonaro se coloca contra o Supremo Tribunal Federal. “Um ministro do Supremo Tribunal perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal. (...) Não queremos ruptura, não queremos brigar com Poder nenhum, mas não podemos admitir que uma pessoa burle a nossa democracia. Não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa liberdade”. Na Avenida Paulista, Bolsonaro deu nome aos bois. “Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. (...) Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha.”

Mais adiante, questiona o sistema eleitoral: “Nós queremos eleições limpas, auditáveis e com contagem pública dos mesmos [sic]. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral [à época Luís Roberto Barroso].”

Brasília e Rio de Janeiro, 07/09/2022. Faltando menos de um mês para a eleição, em desvantagem nas pesquisas e com Moraes à frente do órgão que organiza o pleito e anunciará o resultado computado pelas urnas eletrônicas, havia grande expectativa quanto aos pronunciamentos de Bolsonaro nos 200 anos da Independência.

Na capital federal, um discurso estritamente eleitoral: a pandemia e a guerra como desculpa para o desempenho econômico ruim; todavia, as citações aos recentes números do emprego, ao preço da gasolina e ao Auxílio Brasil são usadas como sinais de esperança. Houve também a pauta de costumes e a “luta do bem contra o mal” em referência velada aos governos de Lula e do PT. E o confronto do Datapovo com o Datafolha.

Em Copacabana, no palco alugado por Silas Malafaia, o sermão do candidato à reeleição se voltou explicitamente contra Lula e a esquerda: corrupção, MST, comunismo, Argentina, Nicarágua e Venezuela; e mais pauta de costumes. A menção ao STF arrancou vaias da multidão, seguida pela defesa aos empresários alvos do mandato de busca e apreensão por suspeitas de financiamento a uma tentativa de golpe. E terminou com um aceno aos cristãos, policiais e militares.

Ao longo de quatro anos, Bolsonaro se transformou em líder de um movimento conservador sem igual em décadas de nossa história. Os mais de 30% da população que o apoiam incondicionalmente podem não ser suficientes para lhe dar um novo mandato, mas lhe concedem uma força que será difícil dissipar.

Bolsonaro pode não ganhar; porém, para os seus propósitos, já levou.

*Bruno Carazza, colunista do Valor, é mestre em Economia e doutor em Direito, é autor de "Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro" (Companhia das Letras)

Fonte: Valor Invest

Comentários

Leia estas Notícias

Acesse sua conta
ou cadastre-se grátis