Vamos comprar "tanto diesel quanto pudermos" da Rússia, diz Carlos França na ONU

Vamos comprar
Chanceler brasileiro negou a possibilidade de uma reação negativa dos países ocidentais à decisão do Brasil de comprar diesel russo O chanceler Carlos França disse hoje que o país comprará o quanto puder de diesel da Rússia. O ministro está em Nova York, onde presidiu uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas — o Brasil ocupa a presidência rotativa do colegiado.

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Após a reunião, França foi questionado por repórteres estrangeiros sobre o anúncio feito ontem pelo presidente Jair Bolsonaro de que pretende comprar o combustível russo. A uma repórter que perguntou sobre a quantidade que o Brasil estava disposto a importar, ele respondeu: “Tanto quanto nós pudermos”.

Ontem, Bolsonaro afirmou que o diesel russo chegará ao Brasil em dois meses. Segundo França, “os negócios estão sendo fechados”, e o combustível deve chegar em breve ao país.

Os jornalistas na ONU estavam interessados no impacto geopolítico da compra brasileira junto às potências ocidentais, que têm condenado a invasão da Ucrânia pelo país comandado por Vladimir Putin.

França respondeu citando pelo menos três vezes as compras do gás da Rússia pelos países da Europa Ocidental, com destaque para a Alemanha.

“A Rússia é um parceiro estratégico do Brasil. Somos parceiros do Brics. Também dependemos muito das exportações de fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia. E, claro, a Rússia é um grande fornecedor de petróleo e gás. Você pode perguntar à Alemanha sobre isso, você pode perguntar à Europa sobre isso. Então, no Brasil, estamos com falta de diesel”, afirmou.

Chanceler Carlos França preside reunião do Conselho de Segurança da ONU

UN Photo/Eskinder Debebe

Questionado sobre se poderia haver alguma reação negativa por parte dos países ocidentais sobre o acordo com Putin, ele negou. E citou a permissão dada recentemente pelo Canadá para que a Siemens exporte uma turbina para o gasoduto Nord Sream, vital para o abastecimento da Alemanha – a venda estava proibida por causa de sanções a Moscou.

“Eu não acho [que tenha reação negativa]. Se você tem a Europa, se você tem a Alemanha comprando. Você teve recentemente uma nova dispensa do Canadá, para as turbinas Siemens da Nord Stream. Acho que estamos na mesma página”, afirmou.

Um repórter, então, perguntou ao chanceler se ele não estava preocupado com a possibilidade de a compra brasileira estar “financiando uma guerra que foi condenada por tantos aqui na ONU, uma guerra na Ucrânia, que é uma violação da carta da ONU”.

O ministro retrucou pedindo a ele que fizesse a mesma indagação para o premiê alemão, Olaf Scholz. “Talvez você devesse perguntar ao senhor Scholz sobre isso, e então eu respondo” disse.

Bolsonaro tem sido cobrado por não condenar a invasão da Rússia pela Ucrânia, em desalinho com as potências ocidentais. Curiosamente, a posição de Bolsonaro coincide com a do petista Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a dizer que Putin é tão culpado pela guerra quanto o líder ucraniano Volodymyr Zelensky, o americano Joe Biden e a União Europeia.

Bolsonaro, que esteve em Moscou poucas semanas antes da invasão, tem usado a boa interlocução com Moscou para aliviar a escassez de fertilizantes e combustíveis provocada pela guerra.

Com a importação de diesel, ele espera provocar um alívio no preço dos combustíveis a três meses das eleições. O aumento da oferta de diesel pode ter impacto também no preço dos alimentos, uma vez que os principais consumidores desse combustível são os caminhoneiros, responsáveis pela maior parte do transporte de cargas do país.