Boris Johnson chegou ao poder de forma triunfal em meados de 2019 e foi apontado como o herói do Brexit. Porém, suas atitudes e modo de agir fizeram com que ficasse totalmente desacreditado e fosse obrigado, pelo próprio Partido Conservador, a renunciar do cargo nesta quinta-feira, 7, após uma série de escândalos que acompanharam seu governo. Segundo uma pesquisa realizada na quarta-feira pelo gabinete Savanta ComRes, três em cada cinco eleitores conservadores consideram que Johnson não consegue recuperar a confiança da opinião pública. 72% acham que o primeiro-ministro deveria renunciar e a maioria dos britânicos o considera um “mentiroso”.
A renúncia de Johnson, é o ápice de um conturbado governo de três anos que começou em alta, mas acabou totalmente enfraquecido. Polêmicas envolvendo gestão na pandemia de Covid-19, descumprimento às regras sanitárias imposta pelo seu governo, crises internas, envolvendo o aumento do custo de vida e, recentemente, a nomeação de Christopher Pincher – acusado de assédio sexual – para um alto cargo, levou o premiê ao pedido de renúncia. Em junho, Johnson já havia passado por uma monção de desconfiança, imposta por sua própria bancada, a qual venceu após ser apoiado por 211 dos 359 deputados conservadores, mas os votos contra deixaram evidente o descontentamento interno.
Ainda não se sabe quem vai substituir Johnson e enquanto isso ele permanece no poder até uma nova nomeação. Sete pessoas, sendo três mulheres e quatro homens, estão entre os favoritos: Ben Wallace, ministro da Defesa, Penny Mordaunt, Ex-ministra da Defesa e atual secretária de Estado do Comércio Exterior, Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças, Jeremy Hunt, Ex-ministro de Relações Exteriores e Saúde, Liz Truss, ministra das Relações Exteriores, Sajid Javid, ministro da Saúde, e Priti Patel, ministra do Interior.
Trajetória de Johnson
Vitória esmagadora: Em julho de 2019, após a renúncia de Theresa May, Johnson liderou a campanha pró-Brexit e foi escolhido para comandar o Partido Conservador em 23 de julho de 2019, após vencer a disputa com o ministro das Relações Exteriores Jeremy Hunt. Um dia depois, foi nomeado primeiro-ministro pela rainha Elizabeth II e prometeu uma rápida saída da União Europeia.
Herói do Brexit: Conquistou em dezembro de 2019 uma maioria histórica para os conservadores na Câmara dos Comuns, depois de convocar eleições legislativas antecipadas. Os deputados aprovam seu acordo sobre o Brexit e em 31 de janeiro de 2020, três anos e meio depois do referendo, o Reino Unido sai da UE.
Pandemia e cuidados intensivos: o primeiro-ministro anuncia em 27 de março que testou positivo para covid-19, depois de sofrer sintomas leves. Em 5 de abril Johnson é hospitalizado. No dia seguinte é transferido para a UTI, onde permanece por três dias. Desde o início da pandemia o premiê foi criticado por sua gestão da crise, acusado, por exemplo, de ter demorado a reagir. Dias após sair do hospital ele nega supostas declarações nas quais seria contrário a um terceiro confinamento. Boris Johnson luta com um caso de lobby que afeta alguns membros de seu governo e uma polêmica sobre a questão do financiamento caro da reforma de sua residência oficial.
Partygate: No início de dezembro se acumulam revelações sobre várias festas ilegais organizadas em Downing Street durante os confinamentos. Os britânicos denunciam dois pesos e duas medidas, pois Johnson acabara de anunciar restrições mais severas contra a covid. A lista de festas aumenta nas semanas seguintes e investigações são abertas sobre o tema. Em 12 de abril, Boris Johnson anuncia que recebeu uma multa da polícia por infração da lei – algo que nunca havia acontecido com um primeiro-ministro em exercício -, por participar em uma festa de aniversário surpresa em junho de 2020 em Downing Street. Suas explicações mudam, mas no Parlamento ele afirma que não violou as regras.
Derrota eleitoral e voto de censura: Os escândalos fazem com que Johnson afunde sua popularidade e os conservadores perdem as eleições locais de 5 de maio. Um mês depois, Johnson sobrevive em 6 de junho a um voto de censura dos deputados do Partido Conservador, convocado por um grupo de parlamentares irritados com o escândalo “partygate”. Mais de 40% dos deputados contam contra o primeiro-ministro, demonstrando a dimensão do mal-estar.
Escândalos sexuais: Depois do “partygate”, começa uma série embaraçosa de escândalos sexuais entre os conservadores, incluindo um deputado suspeito de estupro detido e depois libertado sob fiança em meados de maio, assim como um ex-parlamentar condenado em maio a 18 meses de prisão por agressão sexual contra um adolescente. Em 5 de julho, Boris Johnson pede desculpas e admite um “erro” por nomear em fevereiro Chris Pincher como o responsável pela disciplina parlamentar dos deputados conservadores, quando já sabia de acusações de teor sexual contra ele.
Renúncia como líder conservador: Cansados dos escândalos, os ministros das Finanças e da Saúde anunciam suas demissões. Eles são acompanhados por uma avalanche de renúncias no governo. Encurralado pelo Partido Conservador, Boris Johnson renúncia como seu líder, embora continue como primeiro-ministro até que seu sucessor seja escolhido. Durante pronunciamento, o premiê que um dia antes declarou que não ia renunciar, se diz “triste por estar desistindo do melhor emprego do mundo, mas essas são as pausas”.
*Com informações da AFP
Fonte: Jovem Pan