Em uma sociedade na qual a monogamia reina, ter um relacionamento aberto ainda é visto como um tabu para muitas pessoas. A influenciadora Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, revelou no “PocCast” que já viveu uma relação aberta e definiu a experiência como “muito louca” e “gostosa”. A apresentadora Bela Gil, que está desde os 18 anos em uma relação com João Paulo Demasi, e a atriz Fernanda Nobre, casada há 10 anos com José Roberto Jardim, já contaram que seus casamentos são abertos. Como cada vez mais famosos estão falando do assunto, muitas pessoas podem estar se perguntando como isso de fato funciona. O primeiro ponto a se destacar é que, assim como na monogamia, o relacionamento aberto não é “bagunça” e precisa de regras para dar certo. O psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Sexualidade pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), explica que um relacionamento aberto “é quando os parceiros podem ficar com outras pessoas quando estão juntos, ou seja, em relações sexuais a três ou a quatro, ou, dependendo do relacionamento, cada um pode se relacionar isoladamente com outras pessoas”.
“Precisa ter regras para que ele funcione de maneira adequada. Em alguns relacionamentos, só se aceita que a pessoa tenha relações sexuais com outras pessoas quando o casal está junto. Em outros casos, o casal concorda em ficar separadamente com outros parceiros. Também é bom definir quantas vezes cada um pode ficar com outras pessoas e se é permitido ficar com várias pessoas diferentes ou não. Tudo tem que ser conversado”, pontua o profissional em entrevista à Jovem Pan. Vale ressaltar que não existe um padrão ou manual com regras fixas, isso porque o que pode funcionar para um casal não necessariamente vai se adequar a outro. O psicólogo Alexander Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), diz que os parceiros precisam chegar a um consenso e considerar questões particulares que acham pertinentes. “É necessário ter diálogo e autoconhecimento, já que a relação aberta envolve duas pessoas que podem, ou não, ter sentimentos um pelo outro e precisam definir juntos o que consideram positivo e o que não estão dispostos a aceitar”, explica Alexander.
Relacionamento aberto vs Poliamor
Abrir um relacionamento não significa que o casal está vivendo uma relação poliamorosa. Eduardo enfatiza que são coisas diferentes: “O relacionamento aberto não implica o relacionamento afetivo com outras pessoas, ele implica em ter relações sexuais ou beijar outras pessoas, mas geralmente sem um vínculo afetivo. No poliamor, você tem, por exemplo, os trisais, que é quando três pessoas estão em uma relação, sendo que todos os envolvidos se amam e possuem um vínculo afetivo”. Alexander acrescenta que a principal diferença entre essas duas formas de relacionamento está no compromisso que é estabelecido entre as pessoas que se relacionam.
Amor livre?
É comum associar o relacionamento aberto a uma forma de “amor livre”, mas ambos os profissionais não enxergam dessa forma. “Apesar de serem termos parecidos, há diferenças entre si. O amor livre consiste em rejeitar qualquer tipo de imposição ou rótulos propostos pela sociedade, assim, não há uma idealização de casamento ou posse amorosa e controle sobre o outro. O relacionamento aberto não tem a ver com uma carga ou imposição sobre o nome do relacionamento, mas consiste em aceitar o desejo sexual por outros parceiros, sem sufocá-lo ou considerá-lo uma infidelidade”, explica o psicólogo. As regras que cercam o relacionamento aberto é justamente o que não o torna “livre”. “As pessoas normalmente não podem sair ficando com qualquer um, elas precisam cumprir o "contrato" desse relacionamento, que é aquilo que foi combinado entre o casal. Vejo o amor livre quando a pessoa pode ficar com quem ela quiser, na hora que ela quiser e da forma como quiser”, diz o psiquiatra.
Quando abrir, ou não, uma relação
Aceitar um namoro ou casamento aberto não é algo simples, isso porque muitas pessoas só se sentem confortáveis em relações monogâmicas. “Não é todo mundo que consegue ter um relacionamento aberto. Tem gente que não aceita essa possibilidade de forma nenhuma. Não existe uma indicação de quando abrir ou não uma relação, mas o casal pode pensar na possibilidade quando o fogo daquela paixão inicial diminuir, quando as relações sexuais forem raras ou quando querem se relacionar com outras pessoas sem perder o relacionamento atual. Há uma série de possibilidades”, afirma Eduardo, que também deixa claro que abrir a relação não significa deixar seus sentimentos de lado. “No relacionamento aberto, também há ciúmes, por isso que as regras são importantes. O benefício que isso pode trazer é aquecer a vida a dois, poder ter relações sexuais com outras pessoas e, consequentemente, isso pode aumentar a vontade sexual entre o próprio casal.”
Alexander ressalta que, além das regras, é necessário que o casal esteja de comum acordo antes de tomar essa decisão. “Caso uma das pessoas na relação não tenha essa vontade de ter o relacionamento aberto, mas o faz para não perder a outra pessoa, ou se essa "abertura" do relacionamento for motivada por uma crise para salvar a relação, o relacionamento aberto não é muito indicado, pois é necessário que ambos estejam cientes de seus sentimentos e de como lidarão com eles. Essa forma de se relacionar precisa de muito diálogo e consciência para evitar mágoas ou inseguranças mais para a frente.” O tema ainda é cercado de preconceitos e, na visão de Eduardo, famosos que decidem falar abertamente sobre suas experiências ajudam a quebrar os tabus. “A mídia tem uma influência muito forte na vida das pessoas, então isso pode influenciar ou encorajar outras pessoas a fazerem o mesmo”, concluiu.