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Conheça a trajetória de Bruno Pereira e Dom Phillips no Amazonas

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O indigenista e o jornalista desapareceram durante expedição no Vale do Javari, no dia 5 de junho; nesta quarta (15), um dos homens preso pela PF e ligado ao caso confessou ter participado do assassinato dos dois O indigenista Bruno Araújo Pereira vinha trabalhando junto a índios do Vale do Javari, no Amazonas, com o objetivo de ajudá-los a proteger seu território contra a presença de invasores. No dia 5 de junho, um domingo, ele e o jornalista britânico Dom Phillips, que escrevia um livro sobre os povos da Amazônia, foram dados como desaparecidos.

Araújo estava atuando havia cerca de um ano e meio na associação dos índios da região, a Univaja. Parte do seu trabalho era ajudar os índios da região a organizarem o que passou a ser chamado de vigilância indígena contra pescadores, madeireiros, garimpeiros e narcotraficantes que circulam pelos rios das terras indígenas do Vale do Javari.

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Ele estava acompanhando o jornalista britânico Dom Phillips para conhecer índios que integravam um desses grupos de vigilância indígena. No dia 5, a dupla planejava chegar em um ponto de encontro próximo ao município de Atalaia do Norte por volta das 8 horas da manhã.

Eles fariam uma viagem de aproximadamente duas horas em uma embarcação, mas nunca chegaram ao ponto.

O também indigenista Orlando Possuelo, colega de trabalho de Pereira na Univaja, afirmou ao Valor, poucos dias depois do desaparecimento, que Pereira era um homem marcado por conta de sua ajuda na atuação contra os invasores.

As ameaças são comuns na região contra pessoas que tentam proteger a floresta e os povos indígenas. E em 2019, um colega de Pereira, Maxciel Pereira dos Santos, foi assassinado na região. Santos trabalhava, então, como colaborador da Funai.

Indígenas isolados

Além dos indígenas que mantêm contatos com não indígenas, o vale tem ainda uma presença importante de indígenas que vivem isolados, sob constante pressão desses grupos.

Bruno Pereira tinha acumulado grande experiência em acompanhar e garantir que os isolados não fossem ameaçados e tinha acumulado também grande experiência na região do Vale do Javari, onde foi representante da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Ele assumiu depois a direção da Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato, da Funai. Mas foi substituído no posto, em 2019, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, pelo missionário Ricardo Lopes Dias.

Pereira pediu afastamento da Funai e vinha se dedicando a ajudar a Univaja.

Desde o seu início, o governo Bolsonaro tem sido criticado por reduzir a aplicação de multas ambientais, por restringir a atuação de órgãos de proteção e, principalmente, por seu discurso favorável a garimpeiros em regiões da Amazônia, visto como contrário aos interesses da população indígena.

Bruno Pereira é descrito por colegas como um profissional dedicado, comprometido com a causa indígena e, sobretudo, com as dificuldades vividas pelos índios que vivem no Vale do Javari. A região está na Tríplice Fronteira entre Colômbia, Brasil e Peru, que é marcada pela presença do narcotráfico de cocaína. Parte da droga produzida nos laboratórios colombianos e peruanos é escoada pelos rios da Amazônia até alcançar portos de onde são embarcadas ilegalmente para o mercado europeu.

Dom Phillips

O jornalista britânico Dom Phillips tinha 57 anos e, havia pelo menos 15, era correspondente no Brasil. Tinha trabalhos para publicações como o “New York Times”, “Washington Post” e “Financial Times”, participando de coberturas como a da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada do Rio. Atualmente, colaborava com o jornal “The Guardian”.

Dedicado à causa da proteção da Amazônia, Phillips preparava um livro sobre que tipo de desenvolvimento poderia florescer na floresta. Ele e o indigenista Bruno Pereira trabalhavam juntos desde 2018, justamente em matérias relacionados aos problemas de conservação e que afligem as comunidades indígenas na região.

Nascido no condado de Merseyside, onde fica a cidade de Liverpool, Phillips entrou no jornalismo, primeiro, como repórter de música. Foi nessa condição, dizem amigos, que teria descoberto o Brasil. Desembarcou em busca de um abrigo temporário e mais tranquilo para terminar de escrever um livro sobre a cultura das raves e dos DJs, e não quis mais deixar o país. Vivia permanentemente aqui desde 2007 e era casado com a brasileira Alessandra Sampaio, que na semana passada gravou um vídeo fazendo um apelo emocionado às autoridades para que encontrassem seu marido e o indigenista Bruno Pereira.

Logo após o sumiço de Phillips e Pereira, o editor do “Guardian” e membro fundador do comitê consultivo do Rainforest Journalism Fund, Jon Watts, escreveu uma carta aberta pedindo que as autoridades brasileiras intensificassem as buscas dos dois e lembrou que ambos já tinham recebido ameaças de morte.

“Dom é um dos jornalistas mais perspicazes e solidários que conheço. Nos últimos anos, seu foco na Amazônia tem se intensificado e, atualmente, ele está dedicando um ano de seu trabalho como freelancer para pesquisar e escrever um livro sobre as ameaças que a floresta tropical enfrenta”, escreveu Watts. “Ainda é possível que eles estejam bem e espero que saiam da floresta surpresos com o alvoroço que está sendo feito em relação a eles, mas a cada minuto que passa eu fico mais preocupado. Todas as florestas tropicais podem ser perigosas. Mas a Amazônia brasileira tem se tornado mais arriscada para os guardiões ambientais e repórteres nos últimos anos, à medida que a atividade criminosa se torna mais comum e tolerada pelo governo central e por muitas autoridades locais.”

Fonte: Valor Invest

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