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Agricultura

Brasil e China: como a soja conecta os dois países

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No Brasil, a soja foi ganhando mais terreno principalmente a partir da década de 1970, após chegar em terras tupiniquins através de imigrantes japoneses em 1908. Apesar de seu desenvolvimento ter demorado, com a expansão da indústria do óleo, e as necessidades impostas pelo mercado mundial, a cultura da soja começou a crescer e se tornar uma das mais atrativas do agronegócio brasileiro. E a China é responsável pelo avanço do nosso grão no mercado global. “O Brasil conseguiu tropicalizar a soja. Até os anos 70, a gente produzia basicamente na região Sul do país. Depois a Embrapa desenvolveu variedades que chegaram não só ao Centro-Oeste, mas também muito próximo do Equador. E o grande crescimento da produtividade aqui no Brasil, em condições tropicais, com uma pegada de carbono mais baixa do que a soja americana, aconteceu simultaneamente, a partir dos anos 70, com a criação de uma grande classe média emergente na China. O que puxou a soja no Brasil foi a demanda chinesa, pois a China fez sua revolução manufatureira naquela década e movimentou mais de 200 mil pessoas do campo para a cidade, aumentou a renda per capita e passou a precisar de proteína vegetal, que é a soja, para a produção de proteína animal”, explica Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global.

A soja é usada na alimentação há mais de 5 mil anos, e seu valor comercial é altíssimo, perdendo apenas para o valor nutricional. Segundo a nutricionista Dani Cierro, “estamos falando de uma leguminosa que, de fato, possui uma proteína de alto valor biológico”. Segundo Cierro, trata-se de uma proteína bem absorvida e que tem uma função muscular e tecidual importante. “Se a gente for comparar, por exemplo, com o arroz, ele precisa do feijão. Juntos, eles têm aminoácidos e se combinam para fazer essa reparação tecidual e muscular. A soja sozinha já tem essa proteína.” Os benefícios para a saúde justificam o interesse pela soja, que cresce ano após ano.

Soja no Centro-Oeste do Brasil

A região Centro-Oeste surgiu como uma opção produtiva da soja e, junto com o Sul, tornou-se uma gigantesca produtora, com destaque para o Mato Grosso, mesmo com o Brasil enfrentando a competição das potências China, EUA e Argentina — além daquele que talvez seja seu maior obstáculo: a falta de investimento e, por consequência, de infraestrutura. Mas como o país consegue superar tudo isso e manter a produtividade lá no alto? Fernando Cadore, presidente da Aprosoja, explica: “O Brasil é um guerreiro, e o produtor que aqui produz também. A gente vive numa situação de extrema falta de infraestrutura, quando compara com a Europa, por exemplo. Eu costumo citar França e Espanha. Os dois países juntos têm o tamanho do Estado de Mato Grosso. Eles possuem 70 mil km de ferrovias e produzem mais de uma dezena de vezes menos que nós. Nós temos 300 km de ferrovias. As nossas rodovias federais são as mesmas desde a época do governo militar, o produtor vive sem asfalto, sem energia elétrica, sem comunicação e pratica a agricultura mais moderna do mundo. Nenhum país é tão tecnológico e tão atualizado com setores de ponta mundial como a agricultura”.

Em Mato Grosso, região de maior destaque da soja no país, o produto começa seu processo de plantio após aquilo que é conhecido como “vazio sanitário”, que ocorre entre 15 de junho e 15 de setembro. Este período é respeitado para manter a qualidade do grão e combater pragas e doenças, como a ferrugem asiática. O ciclo varia, normalmente, entre 100 a 162 dias. E a colheita, por fim, é feita entre janeiro e março. Os números da safra de 2021 já foram excelentes e a expectativa para a próxima é a melhor possível. No Mato Grosso, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária prevê um avanço de mais de 3% em relação ao ano anterior. Os mais otimistas acreditam em mais uma safra recorde.

Quem também olha para a próxima safra com otimismo é o IBGE, que projeta a produção de grãos como a soja, cereais e leguminosas alcançando o montante de 277,1 milhões de toneladas. Além disso, a pesquisa também viu que, diferentemente de outros grãos, como o arroz e o feijão, a produção de soja vai crescer 2,5%. Para Fernando Cadore, essa produção precisa continuar assim e aumentar ainda mais para suprir a sempre crescente demanda por alimentos no mundo. “O Brasil hoje, sem sombra de dúvida, é o país que vai segurar a alimentação mundial nas próximas décadas. Não existe nenhuma outra fronteira agrícola no mundo que possa fazer esse suprimento. Por isso é tão importante que o sistema produtivo brasileiro continue. E por isso é tão importante que a sociedade entenda o papel da agricultura no nosso país e a maneira como é feita a agricultura no Brasil.”

Quem compra tanta soja brasileira?

A resposta é a China, que, junto com o Brasil e os Estados Unidos, forma o grupo dos três principais cultivadores de soja do planeta. Além de produzir, o gigante asiático é um dos maiores compradores do grão. Como não consegue suprir o mercado interno apenas com a produção local, os chineses importam grãos brasileiros e também dos Estados Unidos, alternando os períodos de safra daqui e da América do Norte.

“Os EUA vão fornecer de setembro até março. De março até setembro é a temporada brasileira. Hemisférios Norte e Sul, essa é a combinação perfeita para ter fornecedores o ano inteiro. Isso é ótimo para a maior compradora de soja do mundo, e nós precisamos de um fornecimento estável. Se vamos comprar dos EUA, isso vai ser em julho, junho e agosto. Às vezes, eles já venderam tudo. E aí entra a temporada brasileira”, explica Li Tan, diretor da Hopeful Group, uma das maiores esmagadoras de soja da China. Em 2021, o país asiático importou 58 bilhões de toneladas de soja brasileira, entre janeiro e outubro. Os dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia também indicam quais são os outros países que mais compraram a soja brasileira no mesmo período. Atrás da China aparecem a Espanha, com 3,5 milhões de toneladas, e a Holanda, com 2,8 milhões.

A expressividade e a distância dos números chineses com os outros países só reforçam a importância da relação comercial no agronegócio entre Brasil e China, como analisa Li Tan. “O Brasil está numa posição muito importante para a China. Os fazendeiros brasileiros plantam seus grãos o mais cedo possível em setembro porque a segunda plantação de algodão e milho vira. E a plantação da soja demora de 100 a 120 dias, mas agora a maioria dos grãos demora só 100 dias. Isso faz com que os grãos brasileiros estejam disponíveis mais cedo e os chineses possam comprar em fevereiro. A janela brasileira vem mais cedo.”

Confira abaixo o terceiro capítulo da websérie Raio-X da Soja:

Fonte: Banda B

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