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Maioria dos russos é a favor da guerra na Ucrânia, mostra pesquisa


A restrição russa ao acesso à informação é uma prática presente há anos no país. O governo determina o que os moradores devem assistir e saber. Essa metodologia faz com que grande parte seja fiel a tudo o que é passado pelos canais estatais. Esse cenário permanece até mesmo durante o conflito com a Ucrânia. Desde o dia 24 de fevereiro, os veículos de comunicação têm tratado o ataque ao território ucraniano como uma “operação especial” – nome que o presidente Vladimir Putin deu para a invasão. Uma pesquisa coordenada pelo político da oposição Alexei Miniailo e que contou com a participação de sociólogos e analistas de dados mostra que 59% dos russos são a favor do conflito. Deste total, 73% acreditam “altamente” ou “totalmente” nas fontes oficiais. Apenas 22% da população rejeita a guerra; outros 85% não acreditam nas mídias estatais.

Desde o começo da invasão, veículos que se opõem à invasão têm sido pressionados a adotar a linha oficial do Kremlin – alguns canais, inclusive, chegaram a sair do ar por não aceitarem a diretriz imposta pelo governo. À Jovem Pan, um morador da Rússia que não quer ser identificado contou que “todas as mídias de informação alternativa estão bloqueadas” e que a forma que eles encontram para acessar notícias fora de lá é por meio do Youtube ou canais do Telegram que ainda funcionam na região. Segundo o russo, “a propaganda oficial segue funcionando efetivamente”. Marina Kosinova, uma russa que mora no Brasil, conta que até por aqui os russos acreditam que a invasão é uma “operação militar”. “Tentei conversar com muitas pessoas, inclusive com russos que moram aqui [no Brasil]. Eles acham que é isso mesmo, não percebem que é uma guerra”, resume. “Na TV os propagandistas falam que está tudo certo, que eles vão sofrer um pouco mas que em breve o governo vai resolver”, acrescenta.

De acordo com a pesquisa, a maior parte das pessoas que acreditam nas mídias estatais russas são pessoas mais velhas. “A maioria das pessoas na Rússia, especialmente as mais velhas, não tem acesso à mídia independente há anos. Assim, eles confiam nas coisas que a propaganda plantou em suas mentes”, explicam os responsáveis pelo material. Pessoas de 18 a 29 anos representam 40% da população que está abertamente contra a guerra. A partir de 42 anos, a porcentagem de russos que discordam do conflito cai para 20%. Para o professor de geopolítica Danúzio Neto essa diferença entre as faixas etárias acontece porque “quem é mais jovem acha meios para acessar a internet e buscas por informações, mas o restante da população fica refém do que a TV estatal disponibiliza”. Por isso, explica o especialista, a população mais velha encontra dificuldades para distinguir o que é certo e errado.

A pesquisa também apresenta as principais informações às quais os moradores têm acesso. Algumas delas são: não há guerra em curso; a operação especial realizada na Ucrânia visa estritamente a infraestrutura militar dos fascistas que tomaram o poder em Kiev para intimidar e oprimir a nação; os ucranianos dão as boas-vindas ao exército russo, os únicos que resistem são os grupos nazistas e as forças militares controladas pelo regime fascista de Kiev; a Rússia não atacou primeiro, apenas reagiu à agressão ucraniana; cidadãos e infraestruturas civis são atacados apenas pelos provocadores ucranianos. Lev Gershenson, ex-chefe da Yandex News, um agregador de notícias russo, disse em seu Facebook que, só na página da empresa, “pelo menos 30 milhões de usuários russos dizem que não há guerra, não há milhares de soldados russos mortos nem dezenas de ucranianos mortos pelos bombardeios russos ou de prisioneiros de guerra, nenhuma imensa destruição nas cidades ucranianas. O fato de que uma parte significativa dos cidadãos russos possa acreditar que não há guerra é a base e o motor desta guerra”.

Os analistas e sociólogos explicam por quais motivos os russos não têm acesso a informações independentes. Segundo os dados apresentados na pesquisa, “a grande maioria da mídia independente foi discriminada e rotulada como "agentes estrangeiros'”, o que teria sido feito para minar a confiança do público e interferir na vida pessoal e nas atividades profissionais dos jornalistas. O compartilhamento de desinformação é algo presente na cultura da Rússia. Nas escolas, os professores foram obrigados a dar “lições” especiais forçando a posição oficial. “Uma campanha de propaganda completa foi lançada nas mídias sociais, incluindo o TikTok, que é mais popular entre os jovens”, explicam os responsáveis pelo material. Em parceira com a empresa de análise Tazero, aproximadamente 8,3 milhões de publicações nas redes sociais – uma das armas mais eficazes de Volodymyr Zelensky e dos ucraniano para registrar tudo o que acontece foram monitoradas pela pesquisa para saber o que está sendo publicado durante o conflito: 52% foram a favor da invasão; 30% rejeitaram a “ação militar”. Entretanto, das postagens monitoradas, 30% trazem opiniões favoráveis à população ucraniana – apenas 2,4% eram ofensivas.

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