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Os caminhos da construção civil para entrar na economia circular

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Levar o canteiro de obra para a fábrica e manter a aposta nos 3Rs e em materiais sustentáveis ajuda o setor construtivo a sair do modelo econômico linear A adoção do modelo de economia circular na construção civil está ganhando corpo. O setor é responsável por grande parte do uso de recursos naturais, da emissão de gases de efeito estufa e do consumo energético e hídrico. Só no Brasil, responde pelo consumo de 75% dos recursos naturais, 12% da água potável e 50% da eletricidade, segundo dados do Centro Brasileiro de Construção Sustentável. Agora, precisa encontrar soluções para aplacar esses problemas ligados à crise ambiental que ameaça o planeta.

Apesar da urgência, a troca do modelo econômico linear para o circular implica mudanças de paradigmas complexos e, por isso, o processo tem sido lento. Primeiro passo para a transformação, o 3Rs (reduzir, reusar e reciclar) tornou-se uma filosofia para a maioria das grandes construtoras e incorporadoras, que já entende o descarte como prejuízo financeiro e enxerga os materiais como um precioso banco de matéria-prima que pode ser reaproveitado, prolongando ao máximo seu tempo de permanência na economia.

Para Carla Tennenbaum, arquiteta e sócia da Ideia Circular, iniciativa de comunicação e educação focada no tema, a mudança do modelo envolve, além da conscientização, engajamento da cadeia produtiva, profissionais mais bem preparados e investimento em inovações e tecnologia.

“Não adianta usar vidro reciclado e fixá-lo com uma massa que contamine o produto, porque isso irá inviabilizar seu reaproveitamento”, explica. Para ela, mais do que pensar em materiais alternativos sustentáveis, é preciso rediscutir novos processos de construção que não tenham impactos socioambientais negativos.

O tema está em voga, mas não é novo. Aqui no Brasil, nos anos 1960, o arquiteto e urbanista Siegbert Zanettini já se preocupava com questões relativas à ecoeficiência. Antes do início da década de 1970, ele usava madeira reaproveitada de andaimes e de fôrmas de concreto para fazer vigas estruturais de até 30 metros de comprimento. Em 1972, defendeu uma tese de doutorado em que trazia como tema central a industrialização da construção civil.

“O lixo produzido nas obras me incomodava e continua a me incomodar. Eu sempre tentei encontrar uma solução limpa, que transferisse o canteiro de obra para a fábrica”, diz ele, que desenvolveu, ainda nos anos 1970, a construção metálica de aço, pioneirismo que levou seu escritório de arquitetura a ser reconhecido mundialmente.

O aço pode ser reciclado sem perder qualidade, e toda a estrutura desse tipo de projeto, reaproveitada como se fosse um lego. A antiga sede do seu escritório foi planejada dessa forma e, quando a empresa mudou de endereço, a estrutura foi desmontada, e as peças, guardadas, porque o gabarito da prefeitura não permitiu o uso delas no novo local.

Além do reaproveitamento do projeto, não há desperdício de material na construção de estruturas metálicas porque as peças são produzidas na fábrica com precisão, e a obra é finalizada rapidamente, basta encaixar as peças e aparafusar. Não há sujeira no canteiro de obras e, ao longo dos anos, pode-se mudar o layout da planta para atender a necessidades eventuais. Para hospitais, laboratórios e centros de pesquisa, segmentos em que a Zanettini mais atua, essa praticidade é crucial.

Para Greg Bousquet, arquiteto e fundador da Architects Office, o uso da madeira engenheirada é a grande revolução para se alcançar um modelo mais sustentável na construção civil. “Com elas, os projetos são pré-fabricados, não há desperdício de material, uso de água ou sujeira no canteiro de obras. São peças leves que já chegam ao terreno prontas para ser montadas como um quebra-cabeça”, explica, informando que seu escritório está empregando essa técnica em um projeto de retrofit na Vila Nova Conceição, em parceria com Canvas, RFM e Koema.

“A industrialização é uma tendência que tem se consolidado no cenário da construção civil mundial e começa a ganhar espaço no Brasil, porque responde a várias premissas da economia circular: gera menos resíduos, e boa parte pode ser reaproveitada”, conta o CEO do Green Building Council Brasil, Felipe Faria.

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ARCHITECTS OFFICE/DIVULGAÇÃO

Material proveniente de florestas cultivadas, a madeira engenheirada é uma das soluções cada vez mais utilizadas em construções. Tem certificação, é leve e resistente até mesmo ao fogo. No Brasil, o primeiro prédio a usar o material foi a loja conceito da Dengo, marca de chocolate brasileira.

“A montagem da loja de quatro andares foi feita em 37 dias e com apenas quatro funcionários”, conta o arquiteto Manoel Maia, sócio de Matheus Farah no escritório de arquitetura e da incorporadora MOS, que usou o material para fazer um estande de vendas e poderá reutilizá-lo nos próximos empreendimentos.

Na Europa, o uso da madeira engenheirada está em edificações altas, como o edifício Mjøstårnet, construído em 2019 na Noruega, que tem 81 metros de altura. Na França, a legislação obriga a utilização de 30% desse tipo de material nas obras públicas. Na Holanda, pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Delft desenvolveram o bioconcreto, combinação de colônias de bactérias com concreto, para impedir a deterioração pela ação da natureza.

A americana Ecovative, que fornece alternativas sustentáveis para materiais de construção e outras aplicações com a tecnologia de cogumelos, criou um material para isolamento feito de fungos, a partir de caules de plantas e cascas de semente, entre outros resíduos agrícolas. O isolamento é resistente ao fogo e pode ser compostado.

No Brasil, a indústria catarinense Santa Luzia usa o isopor recolhido em obras como enchimento de rodapés, molduras e outros produtos que são recobertos com madeira laminada.

Fonte: Valor Invest

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