O Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL), por meio do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH), e a Polícia Civil (PC) irão investigar as mortes de duas crianças após elas serem atendidas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Tabuleiro do Martins, de responsabilidade do Governo do Estado. O órgão quer explicação sobre os procedimentos adotados pelos profissionais da saúde que atenderam os dois meninos.
A morte mais recente ocorreu nessa segunda-feira (17). Carlos Miguel Ferreira, de 10 anos, deu entrada na UPA do Tabuleiro, na madrugada do domingo (16), após sentir dores de dente, segundo informações dos pais do menino à TV Gazeta.
"Depois da medicação que ele estava tomando, ele estava agoniado na maca com muita dor, e o médico apertava a barriga dele e nada. Resolveram fazer exame de sangue. Furaram em vários cantos e não encontrava sangue", contou a mãe, Márcia Maria do Nascimento.
Segundo os pais de Miguel, a criança deu entrada na unidade de saúde, ficou internada por algumas horas na Ala Amarela e, depois, foi transferido para a Ala Vermelha.
"Eles me chamaram para seguir pela Ala vermelha, depois pediram para eu falar com ele [filho]. Sendo que, quando eu fui falar, Miguel não estava mais reagindo. Aí ela [profissional da saúde] disse: agora deixe com a gente. Depois, com uns 40 minutos, ela veio me informar que ele tinha chegado a falecer", expõe Márcia, afirmando que, em seguida, a família recebeu uma declaração de óbito com a causa indeterminada.
"Não estou acreditando. Como de uma dor de dente, que começou na quarta-feira, saiu uma morte?", questionou o pai da criança, Cícero Ferreira.
Outra criança morreu após ser atendida na UPA há duas semanas
Outro caso recente ocorreu na UPA do Tabuleiro. A família da pequena Isabelly denunciou uma suposta negligência no atendimento da criança, de 7 anos, que morreu cerca de 30 minutos depois de dar entrada no Hospital Geral do Estado (HGE). Antes de ir para o HGE, a criança tinha sido atendida na UPA do Tabuleiro, no mesmo dia.
Selma também está passando pelo mesmo sofrimento com a morte da filha de sete anos. Ela levou a menina à UPA no Tabuleiro duas vezes, com febre e dores no corpo, no dia 2 de janeiro deste ano. A menina foi medicada e liberada.
Segundo o relato do tio de Isabelly, Erivaldo Santos, a criança se sentiu mal e foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), localizada no Tabuleiro do Martins, parte alta de Maceió. No entanto, após ser medicada, ela foi mandada para casa.
O tio da menina relatou, ainda, que ela passou a ter manchas no corpo e retornou à UPA. Novamente, foi atendida e liberada após uma profissional da saúde afirmar que as manchas iriam desaparecer em poucos dias. Ainda conforme as informações do parente, a menina voltou para casa apresentando moleza e sonolência.
Por sua vez, a menina foi levada para uma unidade de saúde. Desta vez, para o Hospital Geral do Estado (HGE). O tio conta que, em 20 minutos de entrada no hospital, a família recebeu a informação de que Isabelly tinha falecido.
"E até então o corpinho dela estava sem mancha nenhuma, sem nenhum problema. Quando chego em casa, começou a aparecer essas manchas dela. Eu estranhei. Não é normal. Voltei à UPA. Chego na UPA, a mesma médica que atendeu ela olhou ela e passou outra medicação. E eu ainda disse que ela estava reclamando de dor no corpo. A médica disse que, com três dias, as manchas iriam sair. E eram manchas muito feias. No desespero, eu fui para o HGE. Mas percebi que ela não estava respirando tão bem. Chegando no HGE, não deu dez minutos e a minha filha faleceu", contou a mãe da menina, Selma Torres, que cobra a identificação da causa da morte da filha.
"Minha filha morreu de quê? Minha filha morreu de causa indeterminada? Vai sair um laudo em 30 a 40 dias, e eu quero justiça", desabafou.
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos informou que vai acionar os Conselhos de Medicina e Enfermagem, para que eles analisem a conduta dos médicos e enfermeiros que prestaram atendimento às crianças.
"Isso está chamando a atenção do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, que vai abrir uma investigação sobre o assunto para que possa fazer uma visita técnica ao local, verificar se os protocolos de atendimento estão sendo corretamente empregados e, também, vamos cobrar das autoridades, a exemplo da PC, a investigação desse caso. O Instituto Médico Legal tem que apontar a causa morte desta criança, que não pode ter causa indeterminada. Alguém sempre morre de alguma coisa. E é necessário isso ser visto pelo perito médico legal. Vamos também cobrar essa providência. Fora isso, estaremos cobrando à Sesau [Secretaria de Saúde do Estado] maior atenção e investigação sobre este caso. Se houve realmente um erro médico ou de pessoas que ali trabalham referente ao atendimento dessa criança", disse o presidente do conselho, promotor Magno Moura.
Já sobre a morte da Isabelly, o laudo do IML descartou causa externa como motivação. Segundo o instituto, não foram encontrados sinais de que a medicação tomada pela criança, durante atendimento médico, tenha sido a causa da morte. Essa suspeita foi excluída ao término dos exames no cadáver da criança.
As duas famílias registraram o Boletim de Ocorrência (BO) para saber as causas da morte. A Polícia Civil disse à TV Gazeta que os dois casos vão ser investigados. A família de Miguel informou que o corpo voltou para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO) no Trapiche, para uma nova análise.
Já a UPA do Tabuleiro informou que o menino Carlos Miguel foi atendido conforme o protocolo de atendimento e classificação de risco. E que foram realizadas todas as manobras e protocolos. Explicou, ainda, que a causa da morte não pode ser identificada no momento por se tratar de uma Unidade de Pronto Atendimento para casos de baixa e média complexidades e que, por isso, o corpo foi encaminhado para investigação no IML de Maceió.