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Com ganhos de assalto a banco, roubo de gado entra na mira de ladrões

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Goiânia – O furto e o roubo de gado, crimes que não são recentes, mas têm ocorrido com certa frequência em estados com rebanho expressivo como Goiás, ganhou um atrativo a mais neste ano. Com o valor recorde da arroba, que superou os R$ 300, o alto preço da carne e as dificuldades de rastreio do animal furtado, ladrões e grupos criminosos começaram a ver no gado um jeito fácil de gerar dinheiro.

A rentabilidade, em alguns casos, dependendo do tipo subtraído, é semelhante a de um furto a caixa eletrônico, por exemplo. Não à toa, investigações já identificaram a migração de quadrilhas especializadas em roubo a banco para o furto de gado. Um caminhão carregado com 20 cabeças de bovinos é equivalente a cerca de R$ 100 mil.

Só nos últimos dois meses, foram várias as ocorrências registradas pela Polícia Militar de Goiás (PMGO), referente à recuperação de gado furtado. O Batalhão Rural, em parceria com o Comando de Operações de Divisas (COD), identificou, entre agosto e setembro, dezenas de vacas e bois alvos de ação criminosa em propriedades rurais de cidades como Perolândia, Caiapônia, Ipiranga de Goiás, Orizona e Cristalina.

Segundo maior rebanho

Goiás possui o segundo maior rebanho bovino do Brasil, atrás apenas de Mato Grosso. Em atualização dos dados divulgada na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou um aumento do rebanho de gado no estado de 3,5% em 2020, chegando a mais de 23,6 milhões de cabeças. Trata-se de mais do que o triplo da população local (7,2 milhões de habitantes).

O contexto desafia a polícia e as investigações. Os grupos e quadrilhas se aproveitam da vastidão da zona rural e das dificuldades de monitoramento para colocar em prática os crimes.

Cada vez mais organizados e articulados com integrantes até de outros estados, os coletivos trocam informações, selecionam as propriedades mais vulneráveis e com estrutura mínima (curral e embarcador) para facilitar a retirada do gado, e decidem o melhor momento de agir.

Fácil escoamento

O delegado adjunto da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Rurais (DERCR) de Goiás, Murilo Gonçalves Almeida, relatou ao Metrópoles como é, geralmente, a estratégia desses grupos e como eles fazem para vender e gerar dinheiro com o gado furtado. A receptação, segundo ele, é facilitada pela própria característica do material.

"É uma mercadoria mais difícil de rastrear, ainda mais se for para abate. Gado é mercadoria que gira muito. O produtor rural compra, vende, engorda, vende de novo, e é comum um gado com duas, três marcas de identificação. Isso é favorável aos ladrões. É muito mais fácil, por exemplo, do que roubar um veículo", explica.

O gado gordo, conforme o delegado, vai direto para frigoríficos e açougues. Em alguns casos, a venda ocorre até em leilões, ou mesmo para um receptador consciente de que se trata de animal furtado. A venda para pessoas de "boa fé" acaba ocorrendo, segundo ele, devido à facilidade de obtenção de documentos.

As chamadas "guias" são facilmente obtidas, hoje, pois são emitidas pelo site de órgãos de controle da atividade rural. Já cientes disso, grupos criminosos fraudam informações, obtêm a documentação e conseguem dar um ar de legalidade ao esquema. Isso, inclusive, inviabiliza a identificação ou descoberta por parte de estabelecimentos que efetuam a compra desses bichos.

Ocorrências recentes

Só no mês de setembro, a Delegacia de Crimes Rurais, em Goiás, identificou um frigorífico e um açougue, em cidades diferentes, suspeitos de compra e venda de carne de gado furtado. O dono do frigorífico, localizado na cidade de Mara Rosa, no norte goiano, foi preso por receptação.

O homem teria comprado 18 cabeças da raça nelore, furtadas na cidade de Campos Verdes. Sete animais foram encontrados com vida e entregues ao dono. Os demais já tinham sido abatidos e, durante as buscas, a polícia encontrou no frigorífico os couros jogados um sobre o outro em um espaço reservado.

No dia 10/9, os agentes da delegacia cumpriram mandados de busca e apreensão em um açougue de Rubiataba, cidade da região central de Goiás. O proprietário do estabelecimento era investigado pela compra de 29 cabeças furtadas em maio deste ano em Itapaci.

De janeiro a junho deste ano, as diligências da DERCR resultaram em um total de 13 prisões e recuperação de 94 cabeças de gado furtadas no estado. A delegacia investiga, ainda, um caso ocorrido no dia 30 de julho deste ano, em Vila Propício. Quase 100 animais foram levados de uma propriedade da cidade.

Para tentar conter e coibir os crimes na zona rural, a PCGO tem promovido a articulação das delegacias locais e a estruturação de regionais, em 18 pontos estratégicos, que ficam em contato com a DERCR, localizada em Goiânia.

A preocupação, no entanto, persiste, já que o estado é visado, não só pela oferta de gado, mas também pela localização, com divisas múltiplas que favorecem o transporte e escoamento de cargas roubadas.

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