Em meio à pandemia, mundo bate recorde de 80 milhões de refugiados e deslocados
Desse total, pelo menos 30 milhões são crianças e adolescentes O número de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a perseguições, conflitos e violações de direitos humanos é estimado em mais de 80 milhões, de acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira pelo Acnur, agência de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU). Desse total, pelo menos 30 milhões são crianças e adolescentes.Apesar de ser um recorde na série histórica, o número é resultado de um levantamento prévio e pode ser ainda maior quando todos os dados deste ano forem contabilizados. O total de 79,5 milhões apurados no início do ano pelo Acnur inclui 45,7 milhões de pessoas deslocadas internamente, 29,6 milhões de refugiados e outros deslocados à força para fora de seus países e 4,2 milhões de requerentes de asilo.Nariman El-Mofty/APSegundo o Acnur, o ano de 2020 foi particularmente mais difícil para os refugiados, devido aos conflitos novos e pré-existentes e à pandemia de covid-19. Em março, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu aos líderes mundiais um cessar-fogo global enquanto o mundo lutava contra a covid-19, mas o apelo foi ignorado por diversos países."Com o deslocamento forçado dobrando na última década, a comunidade internacional está falhando em salvaguardar a paz", disse Filippo Grandi, chefe do Acnur. "Estamos ultrapassando outro marco sombrio que continuará a crescer, a menos que os líderes mundiais parem as guerras."De acordo com o relatório da ONU, a covid-19 tornou-se um elemento agravante para a situação das pessoas forçadas a deixarem seus países. "O vírus interrompeu todos os aspectos da vida humana e agravou severamente os desafios existentes para os deslocados à força e as pessoas sem pátria", diz o texto.Os dados do Acnur mostram que as medidas adotadas para combater a disseminação do coronavírus dificultaram a assistência segura aos refugiados. Em abril, quando grande parte dos países viveu o pico da pandemia, 168 nações fecharam total ou parcialmente suas fronteiras, dentre as quais 90 não abriram exceções para requerentes de asilo.A entidade afirma que negociou com 111 países para encontrar soluções pragmáticas que tornassem seus sistemas de acolhimento operacionais mesmo em meio à pandemia.Apesar disso, os novos pedidos de asilo diminuíram um terço em comparação com o mesmo período em 2019 e, segundo o Acnur, "os fatores subjacentes que levam a conflitos em todo o mundo permanecem sem solução".O órgão da ONU também afirma que apenas 822,6 mil deslocados conseguiram voltar para casa, dos quais a maioria – 635 mil – era de pessoas que haviam permanecido em seus próprios países. Assim, o retorno de refugiados caiu 22% em comparação com o ano passado.Mais de dois terços dos refugiados saíram de cinco países: Síria, Venezuela, Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar, Já as cinco nações que mais receberam os refugiados são Turquia, Colômbia, Paquistão, Uganda e Alemanha.Na semana passada, a ONU divulgou outro relatório, o Panorama Humanitário Mundial, que aponta que 235 milhões de pessoas – 1 a cada 33 no planeta – precisarão de algum tipo de ajuda humanitária em 2021.Para atendê-las, a ONU precisa atingir a marca de US$ 35 bilhões em doações. A meta é mais que o dobro dos recordes US$ 17 bilhões que a entidade recebeu dos países-membros em 2020, quando o objetivo era angariar US$ 29 bilhões.O relatório apresenta um cenário sombrio das necessidades provocadas por conflitos, deslocamentos, desastres naturais e pela mudança climática, mas atribui à covid-19 a maior responsabilidade pelo aumento da demanda humanitária.A pandemia, segundo a ONU, afetou de modo desproporcional as populações que "já vivem no fio da navalha", e o panorama apresentado é "a perspectiva mais desoladora e sombria sobre a necessidade humanitária" já anunciada pela entidade.