A eleição para a prefeitura de Maceió atravessou o debate sobre a taxação de produtos importados no valor de até 50 dólares. O responsável por isso é o senador Rodrigo Cunha, que deu uma rasteira no deputado Arthur Lira, presidente da Câmara. O projeto foi aprovado na Câmara após demorada costura de um acordo entre governo e oposição. Relator da matéria no Senado, Cunha resolveu tumultuar a tramitação.
O movimento inesperado causou perplexidade por todos os lados. Havia um entendimento de que o Senado manteria o que saiu da Câmara, com a taxação de 20% na aquisição de "blusinhas" e outras "bugigangas". Como em tudo que é aprovado – ou não – pela Câmara, Lira também foi o principal fiador nesse caso. Ele e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, estavam tranquilos quanto à aprovação pelos senadores.
Mas Rodrigo Cunha resolveu dar prioridade aos interesses provincianos, olhando para a cadeira de vice-prefeito na chapa com João Henrique Caldas. Seu nome na composição, que parecia consolidado, foi aos poucos ganhando a oposição de Lira – que pretende ele mesmo indicar o vice de JHC. Ao bagunçar o acordo sobre a taxação, Cunha agiu para queimar o filme do até então parceiro presidente da Câmara. Novo capítulo eleitoral.
Ao retirar do texto do projeto o item sobre a taxação, Cunha foi bruto com Lira. Chamou os termos do acordo na Câmara de "artimanha legislativa". Para quem era aliado até ontem, parece que o senador está decidido a tomar rumo oposto ao deputado. Lira ficou irritado porque a quebra do combinado na Câmara põe em xeque sua sempre festejada capacidade de cumprir os compromissos assumidos. A temperatura está fervendo.
O senador de Arapiraca jura pela padroeira da República que sua extravagante decisão nada tem a ver com eleição em Maceió. Mas até as esquinas de Ibateguara sabem que é o contrário. Em jogo está aliás não apenas a disputa de 2024, mas o panorama para 2026, quando Arthur Lira pretende uma cadeira de senador. E, de repente, eis um debate sobre os rumos da economia brasileira submetido a trambicagens de eleição paroquial.
O senado retoma a discussão sobre o tema nesta quarta-feira. E pode mudar tudo.