Dois dias após chegar a Maceió, Leandro Pinheiro Barros, acusado do feminicídio de Mônica Cristina Gomes Cavalcante Alves, em São José da Tapera, em junho do ano passado, foi submetido a um interrogatório e deu a versão dele dos fatos. Assassino confesso, o marido da vítima contou o que fez após matar brutalmente a jovem de 26 anos e deixar o corpo dela ensanguentado em frente ao Fórum do município.
Em depoimento, Leandro contou que, ao perceber que Mônica estava morta, entrou no carro e fugiu para outra cidade, ainda na região do Sertão. Logo depois, ele alegou que pegou uma carona até o estado de Sergipe, onde se hospedou rapidamente na casa de um familiar.
"Na versão dele, ele disse que não recebeu ajuda de parentes. Ele disse que o que ocorreu foi que, após efetuar disparos contra a esposa, tentou ainda verificar se ela estava com vida, pois havia muito sangue no local. E quando ele percebeu que ela já havia falecido, segundo ele, pegou o carro e saiu com o objetivo de fugir", iniciou o delegado Igor Diego.
"Ele disse que dirigiu até a cidade de Olho D'Água das Flores, onde abandonou o veículo e começou a pedir carona, e chegou até o estado de Sergipe, e foi para a casa de um primo", continuou Diego em entrevista ao programa Cidade AL, da TV Pajuçara/Record, no início da noite desta segunda-feira (8).
Ao delegado, Leandro contou que o primo se recusou a lhe dar abrigo depois de descobrir o feminicídio. "Após o primo tomar conhecimento do que tinha ocorrido, ele disse que não queria que ele [Leandro] ficasse na casa dele, porque a polícia ia bater lá, e ele não queria ter relação com isso. Diante disso, ele [Leandro] pegou todo o valor que tinha, em espécie, e saiu pegando carona até chegar na Bolívia".
Vida de comerciante de celulares no país vizinho - Leandro contou à polícia que conseguiu se manter durante quase 10 meses na Bolívia por fugir de Alagoas com uma quantidade de dinheiro em espécie que teria levado à compra de diversos aparelhos celulares posteriormente usados para revenda. O acusado negou ter recebido ajuda financeira de familiares ou amigos.
"Para sobreviver, ele estava comprando e vendendo celulares naquele país. Segundo ele, tinha fugido com uma quantidade [de dinheiro] em espécie, e quando chegou lá, na Bolívia, passou a comprar diversos celulares e passou a revendê-los. E disse que estava fazendo a parte financeira dele proveniente dessa atividade de venda de celulares. Não temos informações sobre ele fazer agiotagem naquele país".
Ainda segundo o delegado, o acusado contou que havia pesquisado sobre a Bolívia na internet antes de cometer o feminicídio. "Ele [Leandro] pegou todo o valor que tinha, em espécie, e saiu pegando carona até chegar na Bolívia. Ele disse que antes do crime, já tinha pesquisado sobre a Bolívia, sabia que lá tinha muitas faculdades de medicina, pesquisou na internet, então quando pensou em fugir, pensou em ir para a Bolívia", destacou Diego.
"Ao chegar na cidade de Santa Cruz [de la Sierra], ele procurou um quarto para alugar, e como lá há muitos brasileiros, ninguém pede documento e informação, então ele fez a locação do quarto. E durante a estadia, disse que se mudou umas três ou quatro vezes de lugar", continuou.
Assassino de Mônica diz que conheceu nova namorada na igreja - Ainda durante o depoimento, Leandro afirmou que se envolveu com uma jovem de 22 anos, quatro anos mais nova do que Mônica, depois de dois meses de estadia no país vizinho. Ele afirmou que frequentou uma igreja local e teve o primeiro contato com a boliviana, estudante de Medicina.
"Ele disse que depois de dois meses, que estava lá, foi para a igreja, e lá conheceu uma moça, e eles começaram a namorar. E posteriormente, eles passaram a morar juntos. Essa moça tem 22 anos, está concluindo a faculdade de medicina, e é boliviana", explicou o delegado.
"Segundo o Leandro, ele teria contado a ela que tinha cometido um crime no Brasil, e que estava foragido, mas em nenhum momento contou para ela qual teria sido o crime. E ele disse que estava se sentindo à vontade", complementou.
Mais uma fase concluída do inquérito - Igor Diego destacou que, depois da prisão, o interrogatório de Leandro nesta segunda-feira foi mais um capítulo do caso que faz com que as autoridades se aproximem da conclusão da investigação.
"O grande objetivo era concluir a investigação. Fazer o interrogatório e preencher as lacunas para saber como os fatos se deram. E de fato, hoje tudo foi devidamente esclarecido em relação a isso. Agora ele foi encaminhado direto ao Sistema Prisional de Alagoas, onde fica à disposição do Poder Judiciário, sobretudo da Comarca de São José da Tapera, onde vai passar pelo julgamento, uma possível condenação pelo tribunal do júri, para que possa efetivamente cumprir a pena do crime bárbaro que cometeu. Então os próximos passos se darão com o Ministério Público e com o Poder Judiciário".
O caso
- O crime ocorreu no dia 18 de junho deste ano. Testemunhas disseram que o casal Leandro Pinheiro Barros e Mônica Cavalcante estava discutindo em uma festa junina na cidade.
- Horas antes do crime, Mônica gravou um vídeo chorando, dizendo que estava sendo perseguida pelo marido e que temia pela vida.
- No vídeo, ela diz que se algo lhe acontecesse, a responsabilidade era do marido, principal acusado do crime.
- Segundo os autos, o homicídio foi praticado por motivo torpe (ciúmes), sentimento de posse e desprezo à vida da companheira, dificultando sua defesa e demonstrando frieza na execução do ato.
- Além de ter sido indiciado pela Polícia Civil, Leandro já foi denunciado pelo Ministério Público de Alagoas. O juiz Leandro Folly, titular da Comarca de São José da Tapera, também decretou a prisão preventiva dele.