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Sem controle do vírus, ampliar UTIs é enxugar gelo, dizem especialistas

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“Esse cenário destoa das medidas que estão sendo tomadas pelo país. Nas duas próximas semanas devemos ver um efeito dominó, com os Estados entrando em colapso e uma exacerbação das mortes em casa, por falta de assistência”, afirma o pesquisador Domingos Alves, da plataforma Covid-19 Brasil, formada por várias universidades públicas do país. Há um apagão em relação às decisões necessárias para controlar a pandemia, diz Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Levantamento do Observatório Covid-19, da Fiocruz, mostra uma piora geral pelo país nas taxas de ocupação de leitos de UTI de covid-19 para adultos no SUS, o que configura o pior cenário já observado desde o início da pandemia, na avaliação da entidade. Segundo o levantamento, 17 capitais estão com taxa de ocupação de ao menos 80%. A situação na média dos Estados não é muito melhor.

Desde novembro, o grupo de pesquisadores do Covid-19 Brasil tem alertado que a segunda onda da pandemia poderia ser pior que a primeira. “Na ocasião, em 12 Estados a média móvel diária de casos era maior que no pico da primeira onda. Em dezembro, esses mesmos Estados tiveram um pico de mortes maior”, diz. Em janeiro, a situação já tinha se espalhado para outras unidades da federação. “O que estamos vendo agora é algo que começou antes mesmo das aglomerações de Natal”, diz Alves.

No Sul do país, o número de casos diários excedeu a primeira onda em mais de 30%, segundo Alves, que defende medidas bem mais restritivas que as atuais para conter a disseminação do coronavírus.

Para ele, a disseminação da variante brasileira do Sars-Cov-2 pode até estar por trás da aceleração dos casos, mas o problema é anterior a isso. “A culpa é da falta de medidas de controle da disseminação do vírus. Os governos nunca executaram uma política de barreiras sanitárias no país”, diz.

Márcio Bittencourt, médico do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), ressalta que a perspectiva de colapso geral vem da piora gradual do sistema. “Esse quadro já existe em quase todos os Estados. Não é um algo pontual”. Ele diz ser uma abordagem simplista responsabilizar a nova variante do coronavírus pelo quadro atual. “Só tem variante quem não controlou a pandemia. A variante é consequência, não causa”, diz. A “culpa”, diz, é da incompetência dos governos em tomar as medidas necessárias.

Ambos os especialistas apontam que a vacinação não vai resolver a pandemia no país, ainda mais no ritmo lento em que está. E a ampliação de leitos de UTI é uma “política de enxugar gelo”, se não houver medidas que de fato controlem a disseminação do vírus.

Bittencourt vê uma piora do quadro da pandemia no país. Ele ressalta que não rodou modelos preditivos, mas diz que não se surpreenderia com um número de mais de dois mil mortos por dia em meados de março. “Estamos numa situação ruim e sem perspectiva de melhora. O sistema de saúde não será capaz de atender todas as pessoas que precisam. Quem está na enfermaria não consegue UTI, quem está no pronto-socorro não consegue enfermaria e que está fora do sistema fica doente em casa”. Para Alves, da FM-USP, o país pode bater recordes similares aos registrados nos Estados Unidos, de 4,5 mil mortes diárias.

A solução para o problema é a mesma do início da pandemia, diz Bittencourt. A lista inclui busca ativa de casos, testagem em larga escala, isolamento adequado de casos confirmados ou suspeitos, quarentena de contato, e distanciamento para pessoas que não estão doentes. “

São medidas muito eficazes, menos custosas e mais impactantes que distanciamento social, seja lockdown ou não”, afirma o médico.

Lockdowns como o de Araraquara, no interior de São Paulo, diz, só vão melhorar o cenário se houver uma estratégia de saída. Sem isso, passado algum tempo a situação pode voltar à estaca zero.

Ambos os pesquisadores também relativizam a vacinação como meio de contenção da pandemia, ainda mais com a lentidão com que está acontecendo no Brasil. Mas mesmo países em que a imunização corre mais rápida, como Israel, ainda há um número relevante de casos e mortes, menores, mas relevantes, e medidas de contenção seguem em curso. “Podemos até ver as mortes cair à metade com a vacinação, mas eu não chamaria isso de sucesso”.

Fonte: Valor Invest

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