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Banimento de K-pop na Coreia do Norte pode sinalizar enfraquecimento de Kim Jong-un; entenda

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Criando severas barreiras de isolamento para manter uma ditadura em pleno século 21, Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, endureceu a pena para aqueles cidadãos flagrados consumindo produções audiovisuais de países estrangeiros. Antes, quem cometesse o “crime” poderia pegar de seis meses a cinco anos em campos de trabalho forçado. Hoje, as penas variam de 5 a 15 anos, gerando até mesmo pena de morte para os responsáveis por importar essas mídias clandestinamente. As sanções contra a música e outras produções culturais de fora da Coreia do Norte não são recentes. Entre as raras notícias vazadas do país pelo jornal Daily NK, que produz diretamente da Coreia do Sul notícias em inglês com ajuda de fontes no país vizinho, estão “duras penalidades” impostas a um grupo de seis jovens flagrados com um pen drive cheio de músicas da banda BTS e filmes chineses, assim como punição de três soldados que foram vistos em um campo militar imitando a coreografia de um clipe da mesma banda em agosto de 2020.

Em abril de 2021, um homem da cidade de Wonsan teria sido executado por um pelotão de fuzilamento por piratear CDs e pen drives com filmes e clipes de fora. “No passado, eles eram enviados para campos de trabalho ou de reeducação. É um grave erro acreditar que você vai receber uma punição leve. Um comportamento reacionário dessa forma ajuda pessoas que têm a intenção de destruir o nosso socialismo. Reacionários não devem ter permissão de viver sem medo na nossa sociedade”, diz trecho de suposto documento divulgado pelas autoridades locais. Segundo o jornal sul-coreano, aquela foi a primeira execução feita contra antissocialistas após o endurecimento das leis. A guerra cultural, segundo as escassas informações vindas do país, não se resume somente às músicas e filmes: punições “menores” podem ser aplicadas aos que forem flagrados usando o “linguajar” estrangeiro em falas ou na escrita.

O banimento dos “estrangeirismos” pode ser transmitido pelo país como um sinal de “rédea curta”, mas, para alguns analistas, condiz com a posição atual de crise da Coreia do Norte. Além das tradicionais sanções à importação de petróleo e outros combustíveis impostas há anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), as poucas relações internacionais que o país tem (feitas majoritariamente com a China e a Rússia) foram abaladas pelo fechamento de fronteiras para conter a Covid-19. O período de escassez de alimentos chegou a ser reconhecido formalmente por Kim Jong-un em reunião com membros do seu partido. Ele tenta atribuir à pandemia a responsabilidade total sobre a situação do regime autoritário. “Tanto o avô quanto o pai [de Kim Jong-un] se baseavam em uma liderança carismática, precisam ser admirados, porque essa não é uma liderança eleita, como no Brasil ou em outros países do mundo. Com as dificuldades econômicas, a população passando fome, isso vai enfraquecendo a sua posição. Quando a legitimidade começa a enfraquecer, a força começa a aparecer”, explica o professor e membro do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos e professor no Curso de Relações Internacionais da ESPM, Alexandre Uehara.

O professor ressalta que informações consumidas sobre o país são baseadas no que o governo local divulga, o que torna qualquer análise “moderada”, já que não é possível ter uma imagem transparente do que de fato está acontecendo na nação. Ele usa uma metáfora, porém, para explicar as sanções ainda mais duras do país em relação aos materiais estrangeiros: quando o rato está acuado, ele fica mais agressivo. Essa proibição de consumo pode ser uma forma de evitar que os moradores entendam que há um mundo além do que eles habitam hoje. “E aí as influências com o BTS, como culturas estrangeiras, fazem a população pensar "poxa, aqui nós estamos passando fome, mas nosso vizinho do outro lado do muro tem o K-pop, tem os dramas, novelas, deve ser uma vida econômica mais interessante"”, analisa Uehara. “Não é por acaso que as pessoas fogem. Não é tão fácil, porque a informação que temos é que quando alguém foge da Coreia do Norte, tem que fugir com toda família, então não é tão simples, mas demonstra que existe uma insatisfação interna”, afirma o professor.

Guerra a um inimigo internacional

O professor explica que países como China e Rússia também já demonstraram sinais de controle interno de informações com traços semelhantes ao da Coreia do Norte, mas ações de busca por um “inimigo internacional” como forma de aumentar a popularidade de líderes podem ocorrer em todos os tipos de países, inclusive naqueles democráticos e capitalistas. Um exemplo menos atual é a guinada de popularidade da ex-primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher quando a Inglaterra ganhou a Guerra das Malvinas no ano de 1982. Na história mais recente, é possível analisar a guerra declarada por George W. Bush nos Estados Unidos contra o terrorismo após o 11 de setembro. “A gente percebe que essa questão de ter um inimigo externo, ter um "inimigo da nação", é um elemento que às vezes os políticos acabam utilizando. No caso do Kim Jong-un, se ele não achar um bode expiatório, alguém em quem ele possa colocar a culpa, talvez ele não consiga se manter forte internamente”, analisa.

Fonte: Jovem Pan

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